É claro que todo mundo ficou olhando, mas ninguém teve coragem de abrir a boca para dizer alguma coisa. Eu contive qualquer impulso de ir até lá e saber se ela estava bem, saber o que seu pai havia lhe dito, me sentindo dividido entre a piedade e o rancor, me recordando dos hematomas no corpo da mulher que eu amava e dos danos que ela e suas colegas haviam causado à Alison. Me perguntei se Terry e Celine também estavam no colégio, mas algo me disse que não. Odiei aquela situação como nunca odiei mais nada em toda minha vida. Odiei a Rox de uma maneira que eu sabia que ela não merecia, mas continuei odiando.

O professor entrou calmamente e começou a aula como se nada houvesse acontecido. Escolas são ambientes onde as fofocas são frequentes, em questão de dias qualquer coisa alvoroçante que acontecia era comentada por todo mundo e todos sabiam do que havia passado, explicitamente nenhum professor gostaria de se envolver no assunto ou mesmo atrair problemas para si, de modo que agiam como se não soubessem de nada. Rox havia cometido um delito grave, mas ninguém iria atrair as autoridades e gerar um escândalo pois isso seria ruim para a instituição e para qualquer um dali. Quase ri de tudo isso, mas a situação não tinha a menor graça na verdade.

Quando a aula estava quase no fim, o diretor Jenkins surgiu na porta pedindo licença ao professor.

— Com licença, professor, eu necessito interromper a sua aula por alguns segundos. — ele disse por uma brecha na porta — Losieur, Roxane. — Rox ergueu a cabeça com os olhos arregalados olhando na direção da porta — Me acompanhe, por favor. Seu pai já está esperando.

Ela balançou a cabeça e levantou, indo até a porta. Um arrepio subiu novamente pela minha espinha e me senti nervoso.

Sabe aquela coceira que dá na garganta e nas orelhas quando você fica curioso demais e ao mesmo tempo aflito? Eu já não me aguentava na cadeira, precisava ter certeza de que nenhuma das coisas que passavam na minha cabeça eram verdade. Então ergui a mão depois de dois minutos e pedi ao professor para ir ao banheiro. Eu sabia que havia um bebedouro na frente da sala do diretor, eu fui logicamente direto para ele para vigiar.

Pelo vidro embaçado da sala só era possível ver os três pelos cantinhos lisos, Rox estava sentada e encolhida, de cabeça abaixada e mãos unidas sobre os joelhos, seu pai andava vagarosamente de um lado para o outro com as mãos nos bolsos da calça até se sentar ao lado da filha e o diretor permanecia em sua cadeira, embora a conversa em si era apenas um murmúrio ininteligível. Observei pelo canto do olho para ver se havia alguma alteração comportamental lá dentro, mas o francês era muito educado para se rebaixar ao ponto de elevar a voz em público e frio demais para parecer irritado.

Ouvi um movimento no interior da sala que indicava que já estavam saindo e corri de volta para o corredor que dobrava para a direita para não ser visto. Rox e o pai passaram por mim perto do meu esconderijo e me dei conta que ela me observava, que podia me ver de onde estava, mas permanecia em silêncio. Girei a cabeça para olhá-la mais atentamente e a vi parada no corredor, voltada para minha direção e com um olhar carregado de um monte de sentimentos confusos e amedrontados. Pude detectar todo o pesar, o medo e a aquiescência de quem vê seu destino passando a sua frente, o resto era um mistério.

— Roxane! — a voz do pai dela foi como uma chicotada. Imperativa, cortante e com uma minúscula entonação raivosa, muito pouco para que eu pudesse afirmar que realmente estava lá, mas eu pude senti-la assim mesmo.

Ela se virou novamente, endurecendo os ombros assustada, recomeçando a caminhar e eu esperei até que os dois terminassem seu caminho no corredor. Aguardei impacientemente até que o diretor entrasse em sua sala, sentia meus músculos tensos, olhei para os lados verificando se ninguém me via. As escadas que levavam ao caminho da minha sala eram naquela mesma direção, então eu tinha a desculpa perfeita para o inspetor que me visse passando. Virei à esquina e segui pelo corredor assim que os dois saíram pela porta, me abaixei enquanto os seguia para não ser visto, fui correndo até a saída e ajustei minha posição o máximo que pude, me recostando na porta e movendo a cabeça até que meus olhos puderam alcançar e olhar pela janela de vidro.

Juventude à flor da peleWhere stories live. Discover now