— A Rox não tem nada a ver com isso! — Ela exclamou exasperada. Pelo modo que sacudia os joelhos, parecia que só queria ir embora dali — Ela é irritante, mas nada que ela diz ou faz me incomoda, está bem?

— Então o que é? — ergui os braços por frustração e um pouco de raiva, elevei minha voz porque aquilo parecia tão absurdo quanto acordar falando chinês do nada.

— Só não é mais uma boa ideia. — foi essa a resposta que saiu da sua boca, mas eu sabia que não era isso. Havia outra coisa escondida ali e eu não ficaria parado vendo ela me chutar sem, pelo menos, me dizer o motivo.

— Está terminando comigo e não pode nem me dizer o porquê? — Meus dentes ficaram doloridos pela força que empreguei apertando-os. Aquilo não podia ser verdade, de jeito nenhum — Acho que eu mereço um pouquinho de sinceridade... Pode ser? — carreguei no sarcasmo, não conseguia mais me controlar e ficar tranquilo. Pelo menos ela percebeu que aquilo não me deixava feliz e pareceu ponderar por um minuto que eu talvez merecesse um pouco de honestidade.

 — Simplesmente não é mais uma boa ideia. — Ela apertava os lábios numa linha fina, hesitando, sua voz soava arrependida e eu tentava pensar rápido o suficiente para decidir se a deixava ir e seguia com a minha vida sem mais complicações ou se terminava de cortar o último nó que segurava a corda da guilhotina e deixava minha cabeça rolar — Não quando acabei me apaixonando por você... — E ouvir isso fez meu coração dar uma cambalhota, mas não ajudava nada ela parecer tão infeliz ao dizer — Te preveni desde o início que isso poderia acontecer, lembra? Eu disse que você é o tipo de cara por quem eu costumo me apaixonar e que no final me deixa magoada. Então é melhor acabar por aqui e evitamos mais constrangimento. — Acho que fiquei de boca aberta, Alison deu uns passos para trás indo na direção do carro.

Só.

Como se isso desse sentido a toda essa coisa insana, ela queria dizer que havia se apaixonado e ir embora levando meu coração junto, levando um pedaço de mim com ela. Como se me tirasse de um oásis e me largasse num deserto que onde antes tinha vida e ficou seco e morto.

Eu não queria que acabasse tão rápido. Na verdade não queria que acabasse nunca! O que tínhamos era o tipo de coisa que merecia ser polida e conservada e não posta de lado como se não valesse nada. Ela dizia que não queria se magoar e eu entendia isso e que ela não lidava bem com alguém quebrando seu coração, mas eu nunca faria nada para magoá-la intencionalmente. Eu amava a Alison, caramba. Ela era importante pra mim e era tão necessária na minha vida quanto era o ar. Ela era uma das minha trivialidades. E eu não podia deixá-la ir facilmente da minha vida somente por medo. Eu tinha medo também, temia fazer as coisas erradas sem querer e temia foder com tudo, foder com os sentimentos dela principalmente, mas era um risco que eu estava disposto a correr para mantê-la na minha vida.

Não, eu não podia deixá-la ir.

As vezes é completamente aceitável agir por puro impulso e deixar o instinto falar, tendo aqueles segundos de coragem insana, então corri até ela.

Dei os poucos passos necessários e quando me aproximei o bastante, puxei Alison pelo cotovelo, trazendo-a para mim. Vi seus olhos confusos e um pouco vermelhos nos cantos, como se estivesse prestes a chorar, me encararem cheios de surpresa. Não acho que ela devia se surpreender, era meio típico que eu a puxasse para mim, que eu sempre a impedisse de ir muito longe, como um costume que se pega por osmose. Nem esperei que dissesse nada, eu também não disse pois as palavras não seriam de muita serventia. Instintivamente, senti aquilo gritando dentro de mim, eu sabia o que precisávamos. Então a apertei mais forte contra o meu peito e abaixei a cabeça para poder beijá-la dignamente, coisa que eu devia ter feito muito antes. E houve aquela pequena tensão de surpresa em todo seu corpo e depois um gostoso relaxamento, aquele que eu percebia sempre, porque ela sempre se entregava à mim como se fosse a coisa mais correta a se fazer. Tinha aquele calor e aquela conexão novamente, e aquela sensação de calmaria depois de uma tempestade.E era a coisa certa, eu sabia que era e ela também sabia.

Juventude à flor da peleWhere stories live. Discover now