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NANDA


Estou na frente da sala da minha chefe tentando achar as palavras certas pra dizer pra ela que estou grávida. Mas não existe palavras certas pra isso né? Eu não queria deixá-la na mão, por isso tenho que dizer logo pra ela poder organizar as escalas e vê quem vai me substituir na minha licença. Respiro fundo e bato na porta. Ouço um 'entre' e é isso que faço.

- Bom dia Fernanda - me surpreendo quando o doutor Josué está aqui em vez da minha chefe.

- Oh, bom dia.. eu, hum.. Estou procurando a doutora Mônica - não sei porque estou tão... constrangida.

- Claro, só que ela teve que tirar uma licença médica então até segunda ordem eu estou a substituindo - ele responde - Se for algo sobre o hospital eu posso tentar resolver.

- Unhum, tudo bem, eu espero ela voltar..

- Se você não tiver pressa.. Eu acredito que o caso da Mônica vai ser um pouco complicado então acho que ela não vai voltar pelos próximos 3 ou 4 meses.. - isso é muito tempo, tenho que falar com ele mesmo - Sente-se, por favor.

- Oh.. eu acho então que tenho que falar com você - digo insegura - É na verdade algo pessoal mas como vai interferir no trabalho eu achei melhor avisar logo...

- Pode falar Fernanda - ele segura minha mão em cima da mesa - Você está passando por algum problema? Precisa de uma licença?

- Na verdade... eu acho melhor ir direto ao ponto. Então. Bem. Eu estou grávida - despejo logo a verdade.

- Grávida? - ele solta minha mão e sua boca se abre - Tem certeza?

- Sim, eu não estava me sentindo bem ultimamente então fiz um teste de farmácia - explico - Ontem eu tive uma consulta e estou com três meses.

- E o pai? - ele pergunta mas levanta a mão fazendo eu me calar - É o cara que estava com você ontem te acompanhando? O mesmo que ficou nos encarando quando fui te deixar em casa?

- O próprio - limpo a garganta tossindo, isso não é da conta dele afinal - Bom, eu estou avisando com antecedência porque minha gravidez é um pouco especial então pode ser que eu tenha que me afastar antes do previsto.

- Você está com algum problema de saúde? - ele pergunta ainda meio pálido - O bebê está bem?

- Na verdade são trigêmeos.

- TRIGÊMEOS? - ele consegui ficar ainda mais pálido e ainda mais boquiaberto.

- Sim, depois de 30 semanas eles podem nascer a qualquer momento então achei melhor deixar o hospital avisado da minha situação. E meu médico pediu pra que meu turno fosse mudado para o dia pra eu ter um sono mais regular e tal..

- Claro, eu vou providenciar... - ele apoia os cotovelos na mesa e passa a mão nos cabelos - Você está no final do seu turno?

- Sim.

- Ótimo, eu te dou uma carona pra casa - tento negar mas ele me para - Você não vai caminhar grávida até a sua casa.. eu posso te deixar. Além do mais eu não vou conseguir terminar essa papelada hoje mesmo então fica pra amanhã.

Acabo aceitando a carona porque sei que o Josué é um bom amigo e realmente se preocupa comigo. Acho que as noticias o deixaram sem chão mas qualquer um ficaria. A minha vida não está nada normal.

Como hoje o meu turno era diurno o sol está já sumindo do céu quando saímos. Vamos pro estacionamento em direção ao grande carro do doutor Josué quando escuto alguém me chamando.

- Fernanda! - me viro e vejo o Thor saindo do seu carro e atravessando a rua em minha direção - Eu vim te pegar, baby - ele diz e beija meus lábios.

Isso seria muito mais agradável se eu não tivesse a leve sensação que ele fez isso só porque o Josué está comigo.

- Bom, já que você não precisa mais de mim Fernanda.. - o doutor diz.

- Não, ela não precisa - o Thor fala e passa o braço pelo meu ombro me puxando pra perto. Acho que ele não está se referindo só a carona..

- Eu estou indo então. E... bom, felicidades pelos bebês - ele se despede já abrindo a porta do carro.

- Por que você falou pra ele sobre os nossos filhos? - o Thor me pergunta quando entramos no carro e ele começa a dirigir - Você deve algum tipo de satisfação pra esse cara e eu não sei?

- Devo, porque ele está no lugar da minha chefe e eu tinha que avisa-lo que eu vou tirar licença do hospital e que tenho que mudar de turno.

-O.k - ele diz pausadamente - Mas eu ainda não gosto desse cara te cercando e dando caronas.

- Ele não ta me cercando. Ele é só um amigo que me ofereceu uma carona, simples - digo calma.

- Eu era só um amigo e você ta ai grávida.. - eu não acredito que ele disse isso - Desculpa, eu não quis dizer assim.. eu só estou com ciu... raiva.

Prefiro encostar minha cabeça no vidro da janela e não responde-lo. Afinal eu não posso me estressar. Quando as coisas vão indo bem a idiotice do Thor me bate na cara como um soco certeiro.

E esse é o seu pai, meus filhos. O que eu escolhi pra vocês. 

Penso colocando a mão na barriga.

THOROnde as histórias ganham vida. Descobre agora