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Capítulo trinta e dois

Átropos manipulou sua imagem projetada para que tivesse duas vezes sua real altura e fitou o deus por cima de seu nariz. Ela queria poder incutir mais medo nele, mas só encontrava uma ânsia curiosa, ou talvez esperança. Com uma única sacudidela no fio predeterminado a Hermes em seu tear, ela poderia mudar seu destino, mas ele não parecia se preocupar com sua própria sorte.

Todavia, ele se preocupava, e muito. Caso contrário, por qual motivo estaria de joelhos no deserto egípcio, fazendo uma súplica às Irmãs do Destino?

Átropos olhou em volta, imaginando se Láquesis e Cloto não fariam uma visita ao deus, obrigando-o a rastejar a seus pés. Láquesis gostava de se aventurar para longe da Ilha da Criação por meio de suas projeções, mas Cloto relutava em fazê-lo, preferindo permanecer em seu cômodo, tanto em corpo quanto em espírito. Ela estava um pouco apreensiva desde que ficou sabendo que Láquesis havia convocado o Guerreiro do Destino, que acabou sendo derrotado por Kratos com a maior facilidade. Ah, havia sido uma dura batalha aérea, claro, mas o grifo que o Guerreiro conduzia era uma montaria inferior; devia ter sido muito mais ágil no ar do que o Pégaso que Kratos usara para chegar à Ilha da Criação. O que tinha dado na cabeça de Láquesis?

– Você conhece meu apelo, irmã – Hermes disse, curvando-se de forma intensa. As asas de suas sandálias zumbiam suavemente, mantendo seus pés um pouco acima das areias do deserto, como se ele fosse bom demais para andar onde os camelos andavam.

Átropos viu sua ira crescer, e não tinha a menor ideia do porquê. Considerou a possibilidade de derrubá-lo, prendendo suas sandálias aladas, para ensinar-lhe uma lição de humildade. Ela detinha o poder sobre os Olimpianos. Detinha o poder sobre todo o mundo! Por acaso ela e suas irmãs não haviam derrubado os Titãs na Grande Guerra? Os Olimpianos e Zeus em particular deviam a elas a posição e o poder dos quais desfrutavam desde então.

– Eu não posso mudar seu destino, deus do Olimpo – Átropos disse pomposamente. Ela queria que ele ficasse bem mais nervoso do que estava e, talvez, acabasse lhe oferecendo um grande tributo, como Cronos havia feito no passado. Presentes dados no calor do medo sempre foram deveras interessantes, refletiam os pensamentos de quem os ofertava. – Ou, melhor dizendo, eu não vou mudar. Não é do meu feitio alterar o que já fora tramado com tanto carinho.

– Suas decisões me deixam confuso, irmã – disse Hermes.

– Elas não são passíveis de entendimento por parte de meros deuses.

– Por que você deixa que Kratos possua o Velocino de Ouro?

– Ele não o possui. Jasão está tentando nos conquistar com aquele suborno, como se o Velocino de Outo tivesse alguma utilidade para nós.

– Se vocês não aceitarem o Velocino de Ouro como uma oferenda de Kratos...

– Jasão é quem nos leva o velo, e não Kratos. Kratos se frustrou em sua tentativa de chegar ao Palácio do Destino. Nós não permitimos que mortais – ou deuses – entrem no palácio, a menos que o determinemos em seu destino.

– Nem tanto, irmã – Hermes disse. Ele se tornava cada vez mais confiante, o que a deixou perplexa, irritando-a ainda mais. Havia muita coisa se esgueirando ao longo de um cordão de destino que ricocheteava e sacudia em direções inesperadas. O resultado seria o mesmo, claro, mas tais oscilações acarretavam imprevisibilidades demais para que ela conseguisse manter sua paz de espírito. Láquesis estaria se deliciando. Átropos queria apenas restaurar a ordem.

– Tenho ciência de cada dádiva já concedida por mim a um mortal.

– Qual é seu ponto, Hermes?

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