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Capítulo dezenove

-OPanteão não pode ficar desfalcado - Zeus disse, afagando a barba.

- O senhor é sábio, Pai dos Céus - Íris disse. - Os mortais acabariam se questionando sobre os motivos de tanta indecisão no Olimpo, caso o senhor não escolha logo um novo Deus da Guerra.

- O que não falta lá embaixo é guerra - Zeus disse, esboçando um sorriso. O que era para ter sido uma risada logo morreu. Ele ergueu os olhos em direção a Atena, prostrada em silêncio diante do trono, depois fitou Íris, à direita dele. Em qual das duas podia confiar? Atena era a Deusa Guerreira, mas ela havia tomado o partido de Kratos para destronar Ares. Com a aprovação e a ajuda dele, sim, mas antes ela o manipulara. Não fosse por isso, o resultado com Kratos não teria sido tão desastroso.

- Mas os mortais precisam de uma figura divina a quem possam adorar - além do senhor, todo-poderoso Zeus.

- Sim, você tem razão, Íris. Um novo Deus da Guerra é necessário, mas qual deus iria renunciar seu atual posto para sentar-se no trono que até pouco tempo atrás era ocupado por Ares e Kratos?

- Eu posso espalhar a mensagem para o senhor - disse Íris. - Permita-me correr por todos os cantos do mundo, por cada fresta no Olimpo, pelo Submundo e pelas profundezas dos domínios de Poseidon - por todo lugar! - e proclamar um concurso para a escolha de um novo Deus da Guerra.

- Um concurso? - Zeus franziu a testa. - Qual seria a necessidade de um concurso, se sou eu quem tomaria a decisão final?

- É de seu interesse que o concurso dê a impressão de estar aberto a todos, mas é claro que seria o senhor quem decidiria. Afinal, quem é o mais sábio dos sábios no Olimpo? - Íris se aproximou ainda mais e sussurrou - O senhor pode se aproveitar da ocasião para ver quem é leal e quem não é... tão leal assim.

- O que você quer dizer com isso? Quem é desleal aqui? - um raio se formou em sua mão. - Quero nomes, diga-me e eu irei atropelá-los!

Íris olhou discretamente por cima do ombro em direção a Atena e, em seguida, disse:

- Seu decreto ainda está valendo, Senhor de Todo o Céu e Toda a Terra. Nenhum deus pode matar outro. O senhor não deve fugir à regra.

- Por que não? Eu sou o rei. Posso fazer o que bem entender!

- O senhor é o mais poderoso dos poderosos, mas não pode se voltar contra todos os deuses. Muitos planos e artimanhas contra o senhor correm soltos no Olimpo, neste exato momento em que conversamos.

- Quero nomes! Eu ordeno, Íris. Você é minha Mensageira dos Deuses. Minha!

- Não sou como Hermes - ela disse, curvando-se aos pés de Zeus e lançando migalhas cintilantes de arco-íris rumo à base do trono. - Dói muito fazer tamanha revelação, uma vez que não me apetece falar mal de outro deus, mas Hermes é conhecido à boca miúda por divulgar o conteúdo de suas mensagens para os outros, às vezes por inimizade, mas tantas outras por puro despeito. Dever e honra são os vínculos de meu trabalho, tão certo como o amor e o respeito me vinculam ao senhor, Zeus. Qualquer missiva que me for confiada será entregue... e ficará restrita a seus olhos e ouvidos.

- Conte-me tudo - ele disse, com os olhos fixos em Atena. Íris se emparelhou ainda mais perto dele e sussurrou para que apenas Zeus pudesse escutar.

- O senhor é sábio, Pai dos Céus. O senhor conhece a resposta. Não há razão alguma para que eu quebre meu juramento mais sagrado.

- Não, você está certa, Íris. Nenhuma razão - ele encarou Atena com um olhar furioso. - Especialmente quando eu mesmo posso imaginar quem deve estar espalhando mentiras a meu respeito e aspirando a meu trono.

- Ninguém jamais sentará em seu trono, nesta câmara, além do senhor, meu rei - disse Íris.

Atena avançou e parou sobre a plataforma do trono. Ela levou as mãos a seus quadris deslumbrantes e encarou seu pai com os olhos enfurecidos. Zeus se perguntou se ela havia conspirado alguma coisa contra ele ou se tolamente pensara que poderia depô-lo do trono sozinha.

Como ele nada falava, Atena pediu sua permissão:

- Meu pai, permita aproximar-me de seu trono.

- Você está perto o suficiente.

- Pois bem. Eu lhe rogo que Kratos seja poupado. Restabeleça-o em seu posto como Deus da Guerra. Apesar de abominar o tumulto que ele causou enquanto deus, o vazio naquele trono é muito pior. Para o bem do Olimpo, em nome da paz entre todos os deuses, restabeleça-o.

Zeus se abaixou e pegou a Lâmina do Olimpo. Ele a ergueu contra o vento, como se esfaqueasse o próprio céu.

- Ele permitiu que seus poderes divinos fossem sugados pela lâmina. Ele teve a chance de me servir, de servir ao Olimpo, mas ele ofereceu apenas insolência e insultos quando eu lhe estendi a mão.

- Ele é um homem orgulhoso.

- Orgulhoso? Atena, você o chama de um homem orgulhoso. Ele era um deus arrogante! Eu não podia mais tolerar. Ele se recusou a dobrar os joelhos diante de mim, o Rei do Olimpo!

- Por isso, você o matou e estabeleceu um projeto particular sobre o qual nada sabemos. Ele escapou do Submundo. Como ele conseguiu, pela segunda vez? Kratos é um homem astuto e o maior entre os guerreiros, mas ele foi auxiliado em sua fuga para longe de Hades.

- O que você está dizendo, Atena? - intimou Íris. - Que Kratos é mais bravo e habilidoso do que Zeus? Nunca! - Íris fitou Zeus, que não escutou os elogios. Ele estava focado demais em Atena.

- Você zomba de mim, filha. Você me ridiculariza, menospreza minha inteligência.

- Penso tão somente no Olimpo, Pai - Atena disse. - Desde que Ares morreu, as coisas andam um tanto confusas. Cabe ao senhor estabelecer a ordem.

- E fazer com que Kratos retorne ao trono de Deus da Guerra ajudaria em algo?

- Sim, ajudaria - Atena disse.

- Eu suponho que você queira o perdão ao banimento de Hermes, também - Íris interveio.

- Fique quieta - Zeus rosnou.

- Não foi por mal, todo-poderoso Zeus - disse Íris, recolhendo-se a sua insignificância. Apesar do tom constrito, Íris fixou seu olhar em Atena, fechando o cenho.

- Onde está Kratos? Eu irei destruí-lo - outra vez! - Zeus ficou de pé e lançou um raio, que explodiu sobre a cabeça de Atena.

Íris se pôs ao lado de Zeus e disse:

- O senhor não precisa confiar nela para obter informações, Lorde Zeus. Sua mensageira fiel pode lhe contar tudo. Kratos buscou refúgio na Ilha da Criação e pereceu de maneira insensata.

- O quê? - Atena deu dois passos trono acima sem que percebesse. - Kratos não pode estar morto!

- E se essa for minha vontade, filha? E se seu rei, o todo poderoso Zeus, o retumbante Rei do Olimpo, tiver decretado isso? Você iria contra meus anseios?

- Não, Pai, é claro que não. Tudo o que importa é o Olimpo - Atena se afastou, virou as costas e se retirou da câmara de audiência.

Zeus se voltou a Íris.

- Se você estiver mentindo para mim, a sorte de Hermes não será nada perto da sua.

- Kratos está morto - Íris disse, convicta de suas palavras.

Zeus afundou de volta em seu trono e sorriu.

- Bom saber. Agora, o Olimpo está enfim a salvo.

God Of War 2Where stories live. Discover now