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Capítulo vinte e sete

Acorrente agitou-se, apertando-se em volta do pescoço musculoso de Kratos, e o arrancou do chão. Ele caiu com força e, então, foi arrastado atrás de um imenso cavalo malhado a galope. A paleta de cores nos flancos do cavalo tinha uma tonalidade de fogo encarnado. Os cascos desferiam coices para cima de Kratos, mas a corrente era longa o suficiente para mantê-lo a uma distância segura – se seguro pudesse ser usado para descrever um estrangulamento até a morte por uma corrente cada vez mais apertada.

Ele grunhiu ao se chocar contra uma árvore morta e voar alto. Aterrissou de forma brusca, mas acabou conseguindo vislumbrar rapidamente o cavaleiro. O homem vestia uma couraça bárbara, com folhas de um metal pesado cobrindo seus ombros ao longo do peito, braços descobertos resguardados apenas por braceletes felpudos, e perneiras que até podiam esconder grevas, mas era provável que não. Embora o bárbaro não estivesse usando um capacete, Kratos não foi capaz de ver seu rosto. Importava mais era o chão passando ligeiro por sua barriga, rasgando seu corpo enquanto ele ia sendo arrastado mais e mais rápido atrás do cavalo de batalha. Kratos agarrou a corrente com ambas as mãos e a puxou, tentando afrouxá-la de sua garganta. Ele sentiu os elos cortando sua carne – e cortando sua respiração.

O mundo se tornou um pouco mais sombrio quando o cavalo acelerou ao longo de uma trilha. Para um trecho pantanoso, ele estava caindo demais e apenas em pontos bem sólidos. Pedras, tocos, detritos, tudo pela frente ia dilacerando a carne de Kratos e não o deixava se concentrar no único jeito de salvar sua pele. Se não conseguisse desenrolar a corrente de seu pescoço, ele morreria.

O cavalo saltou sobre uma árvore caída; Kratos não teve outra escolha senão acabar de encontro a ela com força e, logo depois, já pairava de novo. Por um breve instante, a tensão da corrente diminuiu um pouco. Ele mergulhou de cabeça contra o vento, desfez uma volta da correia de aço e impulsionou seu braço direito para o alto de modo que a corrente estalasse apertada em torno dele, em vez de seu pescoço. Em seguida, ele tombou contra o chão, exalando todo o fôlego de seus pulmões em uma rajada, com o impacto. Foi arrastado por mais uns cem metros até que recuperasse os sentidos o suficiente para levar a mão esquerda às costas, desembainhar uma espada e, então, trazê-la abaixo com toda a sua força contra a corrente.

Em um momento, ele deslizava pelo chão – em seguida, ele já estava se pondo de pé na estrada pantanosa, com árvores por todos os lados e o cavalo marcado pelo fogo disparando por uma clareira, livre do contrapeso de Kratos. O cavaleiro puxou as rédeas e forçou sua montaria a enterrar os cascos na terra fofa. Uma nuvem de poeira e lama se levantou, então o cavalo girou em suas patas e correu de volta aonde Kratos já estava com uma lâmina à mão.

– Pelos deuses, é verdade! – O cavaleiro se maravilhou, fixando seus olhos em Kratos. – As Moiras estão sorrindo para mim hoje. Abri meu caminho por entre os guardiões de Hades, rastejei pelo fogo do tormento eterno até conseguir escapar, e tudo por uma chance de mudar meu destino. E por onde haveria de começar da melhor maneira possível, senão tirando a vida do homem que roubou a minha?

– Você – Kratos disse com escárnio. – Quantas vezes mais eu terei de matá-lo?

O Rei Bárbaro levou o rosto aos céus e urrou em provocação. Ao se inclinar, o bárbaro expôs a pálida cicatriz em sua garganta a Kratos, que, por sua vez, havia decapitado o guerreiro, lançando sua cabeça a uma poça de lama, da última vez em que se encontraram. Sua barba negra e espessa escondeu novamente a cicatriz em seu pescoço quando ele baixou o queixo para lançar seu olhar carrancudo de encontro a Kratos, que mal conseguiu enxergar os olhos por trás daqueles poços escavados no cenho de seu oponente, mas pôde ver que ardiam mais do que mera sede de sangue. Toda a sua astúcia estava focada exclusivamente em seu inimigo.

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