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Capítulo seis

Kratos trombava contra o vento, agitando os braços, até que recuperou o controle sobre si. Ele se jogara de ponta-cabeça do Olimpo; cair até o outro lado do porto de Rodes não deveria ser tão difícil assim, mesmo tendo seu tamanho e sua força subtraídos.

Ele encostou o queixo contra o peito, protegendo o pescoço, virou de lado em um giro e aterrissou bruscamente em uma cúpula de cristal. Por um átimo de segundo, imaginou que o vidro aguentaria o tranco, mas se despedaçou de imediato, e Kratos desabou direto em uma límpida piscina. O choque ao quebrar a cúpula foi amenizado pela súbita imersão na água. Kratos continuou mergulhando até que seus pés tocassem os azulejos escorregadios no fundo da morna piscina. Suas poderosas pernas se flexionaram e o impulsionaram feito uma flecha. Ele irrompeu à superfície, já quase sem fôlego. O perfume enjoativo do banho o sufocou mais ainda.

Ele nadou até a borda da piscina e se impulsionou para fora, sacudiu-se como um cão, espirrando gotas de água por todo lado e, então, subiu correndo as escadas até uma ampla varanda com vistas para o porto. O Colosso estava agitado e bem barulhento, destruindo tudo desenfreadamente conforme procurava por Kratos, sem saber que ele o observava a uma distância segura. Ao se dar conta de que Kratos o encarava com ódio mortal, o monstro de metal deu a volta em direção a ele. Seus olhos incandesciam um azul único e se fixaram em seu oponente, enquanto sua boca se abriu para vomitar ainda mais brilho em um grito sem som.

O rangido das juntas de metal despertou Kratos para o fato de que ele teria apenas alguns segundos até se atracar novamente à estátua em uma terrível batalha. Ele sacou as Lâminas de Atena, ficou em posição e esperou por sua oportunidade. O Colosso se movimentava de forma lenta pelos escombros do porto submerso, mas Kratos já fora testemunha de seus reflexos rápidos. Ao se aproximar, o Colosso ergueu o braço para novamente esmagar o que estivesse embaixo. Kratos prendeu o antebraço direito da estátua no X de suas espadas cruzadas e apertou com toda força. Um arranhão profundo, brilhante e irregular apareceu no bronze.

O Colosso recuou e, logo em seguida, volteou seu braço esquerdo amputado. Kratos utilizou as lâminas como ganchos para escalar e atacar a estrutura descoberta. Mais ligamentos se partiram e o Colosso reagiu como um animal ferido. Com um golpe poderoso de cima para baixo, Kratos fincou suas espadas no pulso de metal exposto. Voaram faíscas por todas as direções. Ele escorregou de novo, lutando para manter o equilíbrio. O Deus da Guerra fez seu caminho braço ferido acima, até alcançar uma posição em que pôde enterrar sua espada em uma ofensiva tremenda, enganchando-a na bochecha de metal como um anzol. Com um brusco solavanco, Kratos voou para o alto, usando sua outra espada para golpear profundamente o metal, soltando um berro ensurdecedor, e desferir um golpe no olho que restou. Uma vez mais, o Colosso reagiu.

Kratos fintou a garra feroz e decepou um novo naco de metal, abrindo uma ferida de onde vazou uma luz azul, idêntica ao brilho que emanava da boca e do então único olho da estátua. Ele apunhalou e retalhou e notou que o metal cedia – e isso quase sacramentou seu trágico fim.

Sua vontade de esfolar outra vez uma lasca de metal fora, expondo a face interior do gigante, era tal que ele se recusou a esquivar da mão direita. Gritou de dor quando os dedos de metal se fecharam sobre ele. E espremeram. Com força. Com mais força. A dor não se parecia com nada que ele já havia suportado antes, mas ele se recusava a ceder. Concentrando-se no dedo superior da estátua até quase decepá-lo, Kratos conseguiu se alavancar e valer-se de sua força prodigiosa para se encontrar uma vez mais lançado ao vento.

Ele despencou em um chão de pedras, rolou e se apoiou sobre seus pés. Levantou-se e fitou o céu, onde as nuvens carregadas de uma tempestade haviam encoberto o sol.

A explosão de um relâmpago rasgou o céu e o deixou em alerta um instante antes de uma voz ressonante retumbar: “Kratos!”

Ele mirou as nuvens e respondeu:

God Of War 2Where stories live. Discover now