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Capítulo vinte e cinco

–Ninguém desafia o que as Irmãs do Destino determinam.

Kratos fixou o olhar na estátua que falava. Seus olhos piscavam e seus lábios se mexiam, mas era pedra, não carne viva. Láquesis podia até estar falando por meio de sua imagem, mas a Irmã do Destino estava em outro lugar. Isso o enfureceu. Não havia razão alguma para ela estar distante. Que ela o encarasse e não usasse um suplente de pedra.

– É como deve ser. Apenas a morte espera por você no final de sua jornada.

– Minha morte foi o que começou esta jornada – disse Kratos, cerrando os punhos com força. Ele deu um passo adiante e quis partir para o ataque – mas ele também queria escutar o que Láquesis tinha a dizer. Gaia dissera que somente as Irmãs do Destino poderiam levá-lo de volta ao momento exato para que ele conseguisse salvar a si mesmo e matar Zeus naquele terraço desolado, devastado, em Rodes.

– As Moiras não consideraram a possibilidade de vitória para você. Sua alma nunca encontrará a paz por conta do que você se tornou.

– Eu sou o que os deuses fizeram de mim! – ele não conseguia mais conter sua raiva. O lampejo de suas espadas provocou um corte de lado a lado na bochecha da estátua, lançando estilhaços de pedra e poeira ao chão, muito abaixo.

Sua fúria aumentou ao ser frustrado por Láquesis. Uma segunda e poderosa investida cortou fora o nariz da estátua. A joia no capacete imperial brilhou ainda mais intensamente, um verde ofuscante que fazia as entranhas de Kratos arderem em um fogo que ameaçava consumi-lo, o que só o atiçou a reagir com violência ainda maior. Bochechas e mandíbula, garganta e cada um dos lados da cabeça. Ele retalhou até que seus músculos se retesassem e a cabeça de Láquesis, outrora protegida pelo capacete, deslizasse para trás, enfim separada do corpo. Kratos recuou, firmou seu pé contra o rosto de pedra assolado e se impulsionou com força. A cabeça foi se desfazendo pelos ares por alguns metros e, então, tombou de encontro ao chão, esmigalhando-se em mil pedaços.

Kratos desceu, andou em meio aos restos de cabeça da estátua e viu um rosto fantasmagórico em um portal arqueado.

– Você morrerá aqui, Kratos. Nós nunca permitiremos que você alcance nosso templo sagrado.

Kratos virou as costas, ignorando o fantasma de Láquesis. Parou e sacou suas espadas assim que um par de javalis grunhiu, resfolegou e, em seguida, brandiu suas presas curvas antes de atacá-lo. Ele se manteve firme, esperou que um dos javalis gigantes saltasse para, só então, esquivar-se. Animais quadrúpedes, uma vez entregues a esse tipo de ataque, não conseguem se restabelecer ou mudar sua direção com facilidade.

Kratos estripou o javali, que passou ventando por ele.

O segundo javali havia aprendido com a morte de seu companheiro e não saltou, permanecendo em terra, de cabeça baixa enquanto se preparava para atacar, prestes a erguê-la e capturá-lo em suas presas amareladas e viciosas. Por mais perigoso que o ataque fosse, Kratos lidou facilmente com a situação. Em vez de usar sua espada, ele se abaixou, agarrou firme a orelha do javali e uma presa encharcada de saliva, e o arremessou ao chão. A pesada criatura se estatelou de lado, esperneando e guinchando. Kratos cerrou o punho no que mais pareceu um martelo de forja e esmagou a garganta do porco, que morreu afogado em seu próprio sangue. Ele o carregou, virando-se em direção ao vão onde o contorno misterioso do rosto de uma mulher ainda tremeluzia.

– Aqui está, Láquesis – Kratos bradou. – Tome seu servo! – ele atirou o javali através do espectro, que fulgurou como se ele tivesse perturbado uma miragem no deserto, ameaçou redemoinhar e, logo em seguida, amalgamou-se de volta em um semblante zombeteiro.

God Of War 2Where stories live. Discover now