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Capítulo nove

Aescuridão preencheu seu universo. Kratos se movia com esforço. Suas pernas se recusavam a obedecê-lo. Um grito se formou em sua garganta, para morrer em um gorgolejo de sangue. Então ele sentiu suas pernas formigarem. O que antes parecia uma pena lhe fazendo cócegas se transformou em uma dor aguda, que lhe deu esperanças de ainda estar vivo.

A dor foi subindo por suas coxas até chegar ao peito e atravessar seu rosto. Ele piscou e, reabrindo apenas um dos olhos, conseguiu ver, pouco antes de o sangue o cegar, as Mãos sombrias de Hades se levantando do piso de pedra em que ele estava caído, para engolfá-lo e passar a goivar sua carne inerte. As brumas da meia-noite formavam tufos que encobriram seus braços e pernas, queimaram como fogo e, então, apertaram suas extremidades como correntes. Mais e mais tentáculos esfumaçados subiam e desciam em volta dele, imobilizando seu corpo. O chão de pedra onde ele estava caído começou a se dissolver, permitindo que as Mãos o puxassem para baixo.

Ele gritou, mas as palavras não saíram de sua boca quando o piso embaixo dele começou a desmoronar. Mesmo caindo pelo portal sombrio direto a Hades, os tentáculos negros o agarraram com mais firmeza e extraíram de dentro dele uma quantidade infinita de agonia. Cada vez mais rápido, o mármore sob seu corpo se esmigalhava e era cavado o buraco por onde ele despencava em uma velocidade que teria tirado o fôlego de um mortal.

A escuridão o encobriu. Abaixo dele, surgiram gritos angustiados dos quais ele bem se lembrava da época de sua fuga do Submundo, antes de lutar com Ares. O cheiro pestilento da morte tomou suas narinas e fez sua língua intumescer. Sua respiração não foi capaz de preencher seus pulmões. Lutando contra as mãos que se encravavam cruelmente em sua carne, ele olhou para seu peito e viu... através de seu corpo. Zeus havia escareado fora sua barriga, deixando um buraco maior do que seus dois punhos juntos. Kratos sabia que já não estava mais entre os vivos. Os tentáculos apertaram e se enterraram ainda mais em seu corpo, até que ele estivesse completamente amortalhado. E, logo em seguida, ele desabou, cego, incapaz de se mover, privado de todos os sentidos, completamente indefeso.

Então, foi tomado pela cólera. Ah, e como foi tomado! Seu corpo podia ter sido subtraído dele, mas sua mente ainda lutava contra a injustiça. Desistir facilmente não fazia parte de seu caráter. Mesmo enquanto caía, ele prometia vingança contra Zeus e cada um dos pilares do Olimpo.

Sua ira transbordou e, de repente, ele não estava mais envolto na escuridão, mas pendurado acima de um poço escaldante. O calor o tostava e fazia o suor misturado ao sangue escorrer por seu corpo. Mãos em chamas tateavam sua pele, segurando-o de braços estendidos no ar. Cada movimento era como se lanças perfurassem seu corpo, mas, ainda assim, ele lutava contra suas limitações. A dor o focava em sua fúria.

E, então, a fúria deu lugar a um vazio total. Sua esposa estava diante dele, implorando-lhe, para logo desaparecer e ser substituída por sua querida filha. A tortura física não significava nada para ele, mas aquilo! Os pesadelos que Zeus e Atena haviam prometido exterminar permaneciam, mesmo ele estando morto! Kratos, então, foi transportado de volta à aldeia onde Ares o enganara para que ele matasse tanto Lysandra quanto a pequena Calíope.

– Não, não – ele arfou. O cenário mudou novamente. Tanto menos o agradou, pois estava deitado de costas, e a carnificina da batalha por todos os lados.

Seus valentes guerreiros estavam morrendo sob o ataque devastador dos bárbaros – e do Rei Bárbaro, que se elevava por cima dele, com o enorme martelo de guerra erguido e pronto a esmagá-lo.

Kratos tentou permanecer em silêncio, mas as palavras foram arrancadas de seus lábios.

– Ares, destrua meus inimigos e minha vida é sua!

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