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Capítulo vinte e quatro

–Apague tudo – disse Cloto. – Agora que o assunto está resolvido, preciso voltar a um trabalho mais sério.

– Espere! – Láquesis exclamou. – Irmã, não é assim tão fácil.

– E por que seria fácil? Mas é muito simples – disse Cloto. – Os deuses estão se portando muito mal, de maneira grave, e nós sabemos por quê. Os Titãs estão em rebuliço desde a Grande Guerra e, agora, ameaçam o Olimpo. Por acaso queremos supervisionar tamanho conflito de novo?

– A Titanomaquia fez o mundo girar em outra direção – disse Láquesis. – Foi tão ruim assim? Por que devemos tentar manter a paz, manter tudo tão... estável?

Ela vislumbrava outro problema, que uma de suas irmãs evitava até mencionar.

Os Titãs estavam cada vez mais ousados após tantos séculos de aprisionamento, servidão e solidão. Não lhe surpreendeu o fato de que Gaia tenha sido a responsável por pastorear Kratos para longe dos braços de Hades e rumo à Ilha da Criação. O que realmente lhe surpreendia era como isso pôde ter acontecido. Ela e suas irmãs trabalhavam em equipe.

Sua testa franziu por não conseguir entender como Kratos havia derrotado o Guerreiro do Destino tão facilmente. Os fios entrelaçando os dois destinos deviam ter-se fundido, restando apenas o do Guerreiro. Ela balançou a cabeça, e os chifres negros em seu capacete imperial refletiram uma luz tão escura quanto seus pensamentos. Aquilo significava que a responsável pela derrota do aliado mais importante delas havia sido Cloto ou Átropos.

Bastaria que apenas uma delas se tornasse independente para arruinar o controle das Irmãs do Destino sobre o mundo. Láquesis considerou a possibilidade de ser necessário um pouco mais de ação por parte dela própria. Ela não nutria amores por suas irmãs, mas, ainda assim, eram suas irmãs, ligadas por um destino que estava fora do controle das três. Um pensamento mesquinho não deixou que ela retornasse ao trabalho, à rotina que suas irmãs tanto apreciavam. Talvez tivesse chegado a hora de se livrar da colaboração delas, até então perfeita e sem emendas, e atacar por conta própria.

– Vocês se deliciam com a rotina. Sou a única que consegue enxergar o perigo, pois ele se insinua apenas em situações fora do comum – disse Láquesis. Quem esboçaria reação? Ela seria capaz de descobrir qual de suas irmãs se intrometera... em sua própria intromissão?

– Você enxerga o perigo por toda parte – disse Átropos, taciturna. – Igual a quando enviou o Guerreiro do Destino para combater Kratos.

Ao longo dos tempos, Láquesis havia aprendido a reconhecer cada reação de suas irmãs, a menor das contrações em seus rostos, o interesse dissimulado ou mesmo o tédio. Aquela simples declaração a deixou sem palavras, contudo. Como Átropos podia saber do fracasso do Guerreiro do Destino? Láquesis havia reagido sem cautela e de modo impulsivo em vez de refletir melhor sobre suas ações – ao contrário do que suas irmãs teriam feito. Mas a impetuosa decisão a havia revigorado e tornado sua infeliz existência um pouco melhor. Átropos estaria apenas jogando uma indireta, embora esse sempre tenha sido seu papel, ou teria seguido um fio de destino e sabia a verdade dos fatos?

Ou estaria exercendo seu papel com ainda mais afinco? As Irmãs do Destino seriam capazes de tecer seus próprios destinos ou uma força maior havia determinado o destino delas? Láquesis descartou de imediato tamanha fantasia. Ao longo dos séculos, não houve indício algum disso – por outro lado, elas sempre haviam trabalhado juntas em unanimidade, até então. Ela achou improvável que Kratos fosse o culpado pela desunião entre elas. Mas ele bem poderia estar sendo ludibriado contra elas, sem se dar conta disso, por alguém fora do controle das Irmãs.

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