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Capítulo vinte e três

Kratos avançava quando, de repente, foi jogado para trás ao levar um choque da faísca emitida pela Chave do Guardião dos Cavalos. A energia azul dançando pela chave se espalhou rapidamente, até que a porta inteira estivesse banhada pela potente descarga. Kratos olhou de relance por cima do ombro para o corpo de Teseu, então delineado pela energia da porta. Sua carne estorricava sobre seu esqueleto já exposto. Dando-se conta de que aquele seria também seu destino, caso tardasse a tomar uma atitude, Kratos adentrou uma ala de teto baixo.

Apenas seus reflexos rápidos o salvaram de ser trespassado por uma lança de gelo que ascendeu do chão, parecida com aquela usada por Teseu do lado de fora. Kratos observou em volta com atenção, buscando um padrão, mas não encontrou nenhum. Devia haver um caminho seguro, ele só tinha de o encontrar em meio ao pouco que sabia do lugar. Ele deu um passo para trás e analisou a chave na fechadura. Marcas novas haviam aparecido nela, até onde ele podia ver.

– Há muitas maneiras de uma chave desbloquear um caminho – ele disse em voz alta, agarrando o cabo da Chave do Guardião dos Cavalos para arrancá-la da fechadura. Um choque bateu em sua mão, seu braço, seu ombro, mas logo o letal brilho azulado se esvaiu. Em poucos segundos, o metal esfriou em seu punho fechado, permitindo que ele o manejasse para analisar as gravuras com mais cuidado. Kratos revirou a chave em suas mãos e, em seguida, baixou-a até que sua parte mais larga estivesse paralela ao assoalho. Foi girando a chave até que os padrões se encaixassem uns aos outros. Os vãos que sobraram forneceram um mapa que mostrava por onde era seguro passar ou não. Ele se moveu ligeiro, pisando sobre as áreas não afligidas por estacas de gelo.

Kratos se concentrou para achar um caminho e percebeu que o ar preenchendo a sala vinha de um lugar próximo, mofado, como se sua porta não fosse aberta há anos. Um altar baixo de pedra, na outra extremidade do recinto, guardava uma pira onde chamas tremeluziam. Algumas palavras haviam sido esculpidas na pedra, mas Kratos não foi capaz de lê-las àquela distância. Aproximou-se com cuidado, analisando os símbolos para decifrar o texto entalhado à frente do altar.

Estava a meio metro de distância da pedra, quando uma neblina branca passou a amalgamar-se atrás dele. A bruma rodopiou, assobiando, e tomou forma.

A imensa cabeça de Cronos falou.

– Nosso destino nos reuniu, guerreiro. Para o bem dos Titãs, eu agora lhe concedo o que restou de meus poderes. Use minha Fúria contra Zeus.

Kratos tentou se mover, mas se viu paralisado ao ser devorado por dois feixes de energia vazando dos olhos de Cronos. Kratos flutuava no ar, de costas arqueadas, enquanto o poder explodia sobre seu corpo, forjando um ponto incandescente próximo ao coração. Virando-se de maneira sutil, uma vez que estava suspenso no ar, ainda mantido em cativeiro pelo feixe duplo, Kratos se sentiu como se estivesse aumentando de tamanho. Qualquer fraqueza dentro dele desapareceu, e ele estremeceu com a recém-adquirida habilidade.

Os olhos se apagaram, liberando Kratos do ritual. Ele se chocou contra o chão, caindo sobre um de seus joelhos. Com uma das mãos apoiada ao chão, recuperou os sentidos e se levantou. A neblina branca havia desaparecido, arrebatando Cronos consigo.

Kratos se voltou ao altar e viu seis guardiões se amontoarem na sala, evitando com cuidado as armadilhas no chão. Todos eram tão altos quanto ele e carregavam espadas perversamente curvadas, elmos estúpidos e armaduras brilhantes. Kratos fez pouco caso deles. Mais soldados da guarnição. Emparelhados ombro a ombro, eles até ficavam bem, mas não pareciam ser bons lutadores.

Sua opinião sobre a coragem deles mudou tão logo eles se dividiram em dois grupos, três deles indo pela esquerda, enquanto o outro trio à direita esperava para ver como ele atacaria. Com qualquer dos dois grupos que lutasse primeiro, deixaria suas costas expostas à aproximação do outro. Avaliou bem a tática deles, mas já ter lutado contra tantos acabou o deixando um pouco mais lento. Ele sentiu uma urgência cada vez maior de que as Moiras lhe dessem o que ele precisava, o que Gaia dissera que poderia ser feito, ou que ele as forçasse a alterar seu destino e o de Zeus.

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