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Capítulo catorze

As asas poderosas aceleravam adiante, mas o olhar aguçado de Kratos enxergou o perigo que ia se aproximando. Ele não era o tipo que desviava de seu caminho quando algo errado estava à frente, mesmo tendo sido despojado de seus poderes divinos. Gaia disse que ele que tinha de encontrar as Moiras e voltar no tempo. O que parecia bem improvável. Nunca ninguém havia alterado seu próprio destino. No entanto, uma Titã ousou desafiar a ira do Olimpo eas Irmãs do Destino para ajudá-lo. Ele não tinha o direito de demonstrar menos coragem, ainda que confiar em Gaia não fosse fácil para alguém que aprendera a desconfiar de todos, menos da força de sua própria espada e das proezas do exército espartano.

Caso ele falhasse, os deuses e as Moiras não poderiam fazer nada pior com ele do que ele já havia sofrido – do que ele sofrera, de fato, em seus pesadelos. Caso obtivesse êxito...

As asas do Pégaso começaram a bater mais rápido, soltando penas de fogo em um rabo de cometa. Por um instante, Kratos pensou que a explosão em alta velocidade faria com que se livrassem dos objetos voadores que se aproximavam, mas logo percebeu ser impossível escapar de um número tão grande deles.

Ele lançou as mãos às costas, desembainhou as Lâminas de Atena e preparou-se para a luta – e foi quase derrubado quando um grifo deu um rasante, atacando-o por trás. Ele se voltou à besta feroz e encarou sua cabeça de águia. Ele não viu remorso algum, nenhuma piedade, nenhuma folga a ser concedida no ardor daquele olhar penetrante. O que veio a calhar para Kratos, já que ele não esperava mesmo nada disso – e nem oferecia nada disso.

Ele se curvou e deixou que o grifo passasse ventando. Suas poderosas asas de águia impulsionavam-no a uma velocidade idêntica à do Pégaso, mas o corpo de leão lhe conferia uma melhor mobilidade. Kratos desviou para a direita e, por pouco, não conseguiu cruzar a rota do grifo. As garras da criatura o agarraram pelas costas, tirando sangue dos arranhões que deixaram. Com um recolher de ombros e um poderoso lançamento de sua lâmina direita ao alto, ele conseguiu repelir o leão-águia, que grasnou e bateu suas asas contra ele, apenas dando margem para que Kratos cortasse fora a ponta de uma delas. O grifo bateu em retirada – e, então, Kratos se deparou com mais meia dúzia dos selvagens assassinos aéreos.

O Pégaso navegou pelo vento e rodopiou em uma inesperada espiral fechada, fazendo com que Kratos fosse derrubado e voasse pelos ares. Com um poderoso impulso, ele ergueu totalmente os braços e se segurou firme. Seus dedos se fecharam em torno da pata de leão. O grifo, subitamente mais pesado devido à carga extra, passou a perder altitude. Com um giro hábil, ele se jogou para cima, caindo entre as asas da criatura. Kratos botou um de seus pés contra a nuca da águia para evitar que ela desse o bote, abocanhando-o com o bico serrilhado. Agarrando a cabeça dela com uma de suas mãos e o bico com a outra, ele foi para trás, concentrando sua imensa força em seus braços e pernas até sentir o pescoço da besta estalar. Por um instante, ele segurou a cabeça, ainda presa ao corpo.

Ele, então, arrancou-a fora, jorrando sangue pelo ar.

Kratos olhou para cima e viu o Pégaso iniciar um mergulho em sua direção. Com o grifo morto, desabando sob ele, Kratos se esticou e agarrou a crina do cavalo alado, alavancando-se de volta a sua montaria. O Pégaso suavemente se estabilizou e tentou atravessar a cortina de bicos e garras que os atacava.

Kratos manteve a calma, tomou sua posição e passou a girar suas lâminas com uma eficácia letal. Uma delas golpeou a garganta de um grifo e o sangue quente jorrou sobre Kratos. Por um instante, ele ficou sem poder enxergar, mas continuou lutando por instinto. Sua espada esquerda se afundou profundamente no peito de um grifo, matando-o instantaneamente.

Ele quase foi derrubado quando o Pégaso rodopiou, mergulhando. Passando a mão de modo selvagem pelos olhos, ele limpou o sangue que lhe tirava a visão e logo viu um problema. Um grifo, muito maior do que os outros, dava sinais de que atacaria por baixo. O Pégaso e o grifo estavam em rota de colisão. Após esperar pelo momento oportuno, valendo-se de sua longa experiência em batalha, Kratos se lançou ao vento. O Pégaso rodopiou na direção oposta, para longe dele, com as pontas de suas asas estalando forte e uma cortina ofuscante de penas perdidas e em chamas flutuando acima.

As penas momentaneamente confundiram o grifo, dando a Kratos a oportunidade de que ele precisava. Ele se lançou abaixo, torceu-se de lado e se agarrou à asa do pássaro-leão. Novamente, ele empregou seu peso em sua vantagem e fez o grifo despencar em um mergulho, mais parecendo uma folha caindo de uma árvore. O grifo desferia bicadas e tentava agarrá-lo mesmo enquanto lutava para se endireitar.

Tudo o que Kratos fez foi se concentrar no que ele fazia de melhor: massacrar.

Uma mão se manteve presa à asa, impedindo-a de ajudar o grifo a permanecer voando. A outra esmurrava a besta com golpes brutais contra o peito e as costas.

O grifo desistiu de tentar voar e simplesmente passou a lutar. Seu ágil pescoço girou e seu bico abocanhou o bíceps maciço de Kratos. Ele sabia bem como o ataque funcionava e arriscou tudo, soltando a criatura, que projetou a cabeça para frente em uma tentativa de rasgar os músculos dele, mas apenas conseguiu sacudi-lo de um lado para o outro. Ele se mostrou pesado demais para que o grifo fosse capaz de suportá-lo, e os dois despencavam cada vez mais rápido.

O grifo soltou o braço de Kratos, mas ele já havia empunhado sua lâmina e a utilizou como um gancho para fincá-la nos quadris da besta, que passou a cair de costas e não mais de cabeça para baixo.

Kratos lançou mão de sua outra espada para conseguir agarrar a cauda de leão, que se debatia feito um chicote no lombo de um escravo. Ele a apertou, alcançou as costas do grifo, montou-se nele e desferiu um soco letal na parte de trás da cabeça do monstro. Sua mão afundou na caixa craniana e, quando saiu, escorria sangue.

Logo depois, ele tombava contra o vento e para longe da criatura morta.

Kratos se resignou à queda letal. E, mais uma vez, o Pégaso sincronizou seu voo para salvá-lo. Ele escutou o barulho das asas, olhou para cima e viu um céu repleto de penas em chamas. Antes que ele se desse conta, o cavalo alado dera um rasante por baixo dele e, então, lutou bravamente para não colidirem contra o mar. Chegaram tão perto de estatelarem-se na água que uma neblina passou a subir à medida que as asas do Pégaso lançavam nuvens de vapor a cada toque na superfície.

– Você tampouco me reivindicará hoje, Poseidon – Kratos rosnou. Eles se afastaram dos domínios do Senhor do Oceano e, novamente, voaram alto. Ele inclinou seu corpo para frente e acariciou a cabeça do Pégaso, de onde se soltavam pequenas faíscas.

– Com mais cem iguais a você, meus exércitos cavalgariam sempre rumo à vitória!

Tal reação provocou um resfôlego de fogo saindo das narinas do cavalo alado e renovou seu empenho para pairar nos ares. Kratos perscrutou atentamente o horizonte e pensou ter visto uma figura vestida de preto montando um grifo verde e lilás, mas tal cavaleiro logo se transformou em um pontinho negro e rapidamente desapareceu ao longe.

– É este o nosso destino? – então, Kratos percebeu que a pergunta não fazia o menor sentido. Eles voaram até que o Pégaso estivesse esgotado. A jornada feroz havia custado muito da energia do cavalo. Kratos sentiu o ritmo cada vez mais irregular e se deu conta de que teriam de pousar, não importava se aquela era a Ilha da Criação.

Ele jogou seu peso contra o Pégaso e empregou seus joelhos para guiá-lo em direção à boca escancarada de uma caverna. O que quer que os aguardasse lá, ele logo descobriria e depois continuaria seu caminho.

Rumo ao extermínio das Moiras e de Zeus.

God Of War 2Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang