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Capítulo treze

Átropos fitou a vasta tapeçaria que compunha o destino do mundo todo, mas não percebeu os nós espertos ou as intrincadas tramas e urdiduras que ela e suas irmãs haviam criado. O que Láquesis dissera a estava incomodando. Láquesis sempre foi inquieta e inquietante, nunca se debruçava sobre o sério trabalho de escolher os melhores destinos aos que mais mereciam. Ainda assim, o que sua irmã dissera fez Átropos refletir com mais cuidado sobre Kratos.

Nada sobre o destino dele havia saído precisamente como ela ou suas irmãs haviam estipulado. Mais de uma vez, ela verificara a força do fio vinculando o Fantasma de Esparta a seu destino, e descobria apenas alguns esgarçamentos ao longo dele. O reparo daquelas pequenas imperfeições não alterara em nada seu destino, é claro, mas havia mudado a trajetória até sua eventual morte.

– Quão longa devo medir sua vida antes de permitir que Láquesis corte o fio? – ela murmurou. Átropos sabia que era melhor com detalhes do que Cloto ou Láquesis. Cloto enxergava o todo e julgava o que seria necessário para atingir seus objetivos, enquanto Láquesis demonstrava impetuosidade demais a destinos decentes para seguir de acordo com o planejado. Átropos, porém, tinha consciência de que devia tomar a frente dos pormenores quando se tratava de um destino mais detalhado. Ela prezava mais pela execução das táticas, ao tempo em que ambas as suas irmãs eram estrategistas. Isso a satisfizera até que Láquesis se interessasse de forma tal pelo mortal Kratos, a ponto de torná-lo aprendiz de Ares.

Átropos só conseguia imaginar que Láquesis tivera a intenção de transformar Kratos no Deus da Guerra para que ele perturbasse a serenidade do Olimpo. Os deuses e deusas tornaram-se complacentes demais nos últimos séculos e passaram a acreditar que as Moiras eram suas aliadas. Ela bufou. Ela e suas irmãs não tomavam partido. Ter permitido o triunfo dos deuses sobre os Titãs não tinha nada a ver com os méritos de um lado em contraposição às deficiências do outro.

Mas o que exatamente Láquesis viu nesse tal de Kratos?

Átropos feriu alguns filamentos mais em torno do fio do destino dele para fortalecê-lo e não dar margens a contratempos. Trabalho malfeito nunca as levara a lugar algum, e não que sua irmã se importasse com isso. Ela apenas favorecia o caos em demérito de conclusões definitivas.

Ela observava a maneira como o fio vibrava e habilmente interpretou os tremores e as oscilações em sentido inverso necessários para se produzir um resultado mais de acordo com a visão global que as Moiras tinham do mundo. Extirpar Kratos poderia ser necessário, embora ele tenha evitado tal sorte ao escalar o Submundo.

De novo.

Átropos franziu a testa. Ela examinou cuidadosamente a primeira fuga das garras de Hades e viu que Zeus havia intervindo em nome de Kratos.

– O coveiro – ela disse. – Um disfarce apropriado e ao qual não falta ironia – sem a ajuda de Zeus, Kratos teria sido exilado para todo o sempre em algum canto escuro e perigoso do Submundo. Da maneira como Hades agiu quando o nome de Kratos nem sequer fora mencionado, ele teria banido o espartano ao Tártaro.

Tal pensamento provocou uma carranca ainda mais intensa a enrugar-lhe o rosto. Kratos aprisionado e torturado onde tantos Titãs haviam sido enviados. Não fora uma boa decisão. Será que Zeus havia enfim se dado conta disso e salvado Kratos por essa razão, ou o Pai dos Céus simplesmente agira de forma abrupta por motivos mesquinhos? Matar Ares fora determinante. Zeus não iria contra seu próprio decreto, permitindo que um deus matasse outro, mas Kratos então ainda não era um deus. Qual instrumento seria mais perfeito para destruir o velho Deus da Guerra senão a arma que ele próprio havia tão cuidadosamente forjado? O erro de Ares fora forçar Kratos a matar sua esposa e sua filha. Em vez de temperar o aço do braço de sua poderosa espada, esta acabou o partindo ao meio em usufruto de Zeus. Um erro muito caro.

God Of War 2Where stories live. Discover now