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Capítulo onze

–Você está se intrometendo! – vociferou Hades. – Ele estava quase em minhas mãos e você deixou que ele escapasse – de novo!

– Eu não fiz nada além de tê-lo mandado ao Submundo – Zeus disse, franzindo a testa. Alguém estaria se intrometendo? Atena? Ela era esperta o suficiente para não contrariar sua vontade, embora ele fosse cético além da conta quando o assunto era Kratos.

Zeus voltou os olhos para cima quando Hades soltou um rosnado gutural, mais parecendo um animal do que um deus. A ira de seu irmão estava cada vez mais difícil de ser tolerada. Zeus passou os dedos pela Lâmina do Olimpo, encostada em seu trono, e ponderou sobre como o problema poderia ser rapidamente resolvido. Um golpe súbito e Hades iria se juntar a Ares, dissipando-se e deixando de ser tão irritante.

Ele havia, porém, decretado que um deus não poderia exterminar outro, daí ter tornado Kratos um mortal novamente antes de executá-lo com a Lâmina do Olimpo. Até o momento, Zeus havia seguido à risca tal resolução e concordara com Atena que a mesma devia se aplicar a todos os deuses, inclusive ao Senhor do Olimpo. Ainda assim, Hades estava insuportável.

– Você o salvou. De que outra forma ele poderia ter evitado a queda às margens do Rio Estige? Pois garanto que ele nunca chegou ao fundo.

– Ele leva seu trabalho a sério – Zeus disse, acomodando sua mão sobre a Lâmina do Olimpo. O poder da espada o fez estremecer e o lembrou da batalha final contra os Titãs. Com a memória, veio uma fúria sem limites. Cronos não tinha sofrido o suficiente. Zeus acorrentara o Templo de Pandora em volta de seu pai e o obrigou a rastejar pelo Deserto das Almas Perdidas até o fim dos tempos. Após o assassinato de Ares pelas mãos de Kratos, fora um prazer enorme banir Cronos às torturas do Tártaro. Ele poderia rever sua decisão, talvez dar falsas esperanças a Cronos de que ele não mais sofreria para, em seguida, encontrar um castigo ainda pior do que o Tártaro. Falsas esperanças eram a pior – a melhor! – das torturas.

– Você se refere a todos os espartanos enviados a meu reino? – Hades afagou sua longa barba de fuligem.

– Muitos ainda atravessarão o Rio Estige – Zeus disse. Ele queria que Hades fosse logo embora para que pudesse refletir sobre a questão de Cronos. A energia renovada na Lâmina do Olimpo fez com que ele se lembrasse da Titanomaquia e do dia mais glorioso para os deuses do Olimpo. O dia mais gloriosodele.

Desde então, não houvera nada além de disputas mesquinhas entre os deuses para que ele mediasse. A questão mais séria havia sido sobre Ares querer matar seu pai para assumir o trono, o que acabou ocupando muito de seu tempo. Zeus julgara que manipular Atena para que ela oferecesse o trono do Deus da Guerra a Kratos traria a paz de volta ao Olimpo. Se muito, tornou impossível o diálogo e inevitável a batalha.

– Você pode enviar todos os exércitos de todas as cidades a mim e não seria o bastante, irmão – disse Hades. – Duas vezes! Por duas vezes, Kratos trapaceou seu destino.

– Trapaceou seu destino – Zeus murmurou. – Isso é impossível. As Moiras não cometem erros.

– Elas nos favoreceram contra os Titãs. Como elas podem ter favorecido Kratos, um emergente, um arrivista mortal, contra nós? É simples, elas não podem! Foi suaintervenção que o resgatou. Eu sei disso.

– Você não sabe de nada – Zeus disse friamente.

– Sou soberano em meu reino e, ainda assim, você se intromete em meus assuntos. Kratos é meu e você o roubou de mim. Duas vezes! – Hades estufou o peito e seus olhos incandesceram-se como carvão em brasa. Seu corpo soltava caracóis de fumaça cada vez mais ao longe, levando Zeus a considerar a possibilidade de lançar um raio e dar razão para tamanho comportamento.

– Retorne a seus domínios, e deixe-me lidar com Kratos e assuntos de maior importância no Olimpo.

– Você me dá ordens como se eu fosse uma copeira? Sou seu irmão, Zeus. Você não pode – Hades deu um passo para trás, olhos fixos no Pai dos Céus, que se levantou e aumentou de tamanho até sua cabeça roçar a cúpula da sala do trono. Seus olhos lampejaram como faróis letais e ele teve de resistir para não violar seu próprio decreto sobre um deus não poder matar outro. Hades entendeu a mensagem nos olhos de seu irmão. Zeus quase gargalhou quando o Senhor do Submundo recuou, curvando-se a seus pés.

– Você tem seus próprios problemas – disse Hades. Ele olhou para cima, evaporando sua submissão como a neblina aos primeiros raios do sol. – Não se intrometa nos meus! – Hades se dissipou por completo, desaparecendo.

Zeus deu um passo adiante, de braço erguido, prestes a soltar um raio, mas conteve sua mão quando viu Hermes à porta, observando atentamente. O Mensageiro dos Deuses bateu em retirada, deixando que suas sandálias aladas o levassem embora.

Zeus quase ordenou que Hermes retornasse, mas, então, sentou-se pesado em seu trono.

– Kratos – ele disse, sua fúria crescendo. – Essa escolha foi sua. Você nunca mais retornará ao Olimpo para sentar-se neste trono. Em meu trono! – Zeus, então, soltou um raio e explodiu um enorme buraco na parede. Cacos de pedra e gemas preciosas cascatearam abaixo, deixando para trás uma nuvem de poeira. Enchendo os pulmões de ar, Zeus soprou forte e dispersou o entulho em uma furiosa ventania para, então, afundar-se em seu trono, tomado por uma cólera sombria.

God Of War 2Where stories live. Discover now