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Capítulo dezesseis

OPégaso desviou tão bruscamente de seu caminho para tomar a direita que Kratos foi obrigado a se agarrar na crina e arrancar um punhado do cabelo composto por fios de ouro para manter sua montaria. O cavalo deu um súbito pinote e se embrenhou numa caverna ornada com pingentes de gelo e uma rajada de vento congelante, que tirou o fôlego de Kratos. As paredes de gelo, rochosas e sujas, ficaram cada vez mais estreitas, forçando Kratos a se jogar violentamente de um lado para o outro no esforço de seguir montado ao cavalo alado. Das profundezas da montanha glacial, soprou um bafo seco e gelado que cobriu sua barba com uma camada fina de gelo e fez as penas flamejantes do Pégaso piscarem. O corcel alado bateu as asas com fúria, mas sua força se esvaiu com rapidez. Caso o cavalo não fosse capaz de continuar, ele não teria mais utilidade alguma a Kratos.

– Para trás – ele bradou, deslocando seu peso para guiar o Pégaso por um corredor lateral ainda mais gélido do que a entrada da caverna. Seus braços estendidos foram cobertos pela geada, fazendo sua carne ficar azul de frio. Encolhendo-se, ele tentou se aquecer nas asas flamejantes do cavalo, mas já não havia calor algum ali.

O Pégaso se enfraquecia mais a cada segundo, em um ritmo de voo já bem errático. Kratos tinha de se reposicionar constantemente para não ser derrubado.

De repente, eles emergiram em uma caverna ainda maior, cuja luz azulada era fraca demais para que pudessem ver por onde voavam. Kratos praguejava enquanto o Pégaso cambaleava de um lado para o outro, quase se chocando contra uma parede, não tivesse desviado a tempo. O Fantasma de Esparta estava tão absorto na tentativa de guiar seu corcel para fora do nevoeiro congelante e de volta rumo à estreita passagem entre as rochas que acabou notando o perigo tarde demais.

O cavalo bateu furiosamente suas asas para evadir-se de um enorme pé que se levantou de uma borda suja de gelo cinza. O Pégaso avançou para cima, passando por uma estátua com vida, cuja boca escancarada era grande o suficiente para que entrassem nela. Kratos conseguiu evitar a armadilha, fazendo o cavalo bater selvagemente suas asas para longe dali. Uma mão de pedra congelada foi na direção deles, mas não conseguiu abatê-los.

– Desapareça daqui, Olimpiano – o Titã retumbou. O que Kratos havia tomado por uma estátua era Tifeu em pessoa. O polegar e o indicador dele eram imensos, dez vezes maiores do que o próprio Kratos. O som provocado ao se espatifarem contra o chão alertou Kratos para o real perigo. Aqueles dedos gélidos, tão grandes, tão enganosamente lentos, eram letais.

Curvando-se totalmente, Kratos guiou o Pégaso para longe do Titã Tifeu.

– Eu não o ajudarei, Deus da Guerra!

Kratos gritou de volta, sem papas na língua, o que o Titã podia fazer com tal ajuda.

O Titã de pele azul parecia mais uma estátua do que uma criatura viva. Kratos se questionou sobre que banimento teria condenado Tifeu àquela caverna gelada, ou se o Titã se escondera ali para evitar a ira dos deuses. Pequenas erupções pontilhavam o rosto de Tifeu, depressões que estouravam para lançar cristais de gelo despencando sobre uma cortina de penas. Kratos pensou na escuridão atiçada por trás daquelas marcas congeladas e em como poderia escapar.

Tentou segurar a crina com mais firmeza e se deu conta de que a temperatura abaixo de zero havia levado um tanto de sua força. Lutar naquele momento poderia ser perigoso.

Ele guiou o cavalo em volta de uma grande câmara de gelo, sua visão já um tanto embaçada pela geada que cobria seus cílios. Escapar daquela frígida gruta era a única esperança de sobrevivência, mas a pálida luz tornava ainda mais difíceis as tentativas de não se chocar contra as afiadas estalactites dependuradas por todos os lados – e ele não se atrevia a voar perto demais do chão, onde mais estalagmites cintilavam com bordas anavalhadas.

God Of War 2Where stories live. Discover now