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Capítulo um

–Meu amor – surgiu o sussurro suave, carregado de urgência. – Eu quero você!

Kratos, o Deus da Guerra, acordou agitado, balbuciou sons indecifráveis e se espreguiçou. O nome de sua amadaLysandra se formou em seus lábios. Ele se sentou e olhou em volta do pequeno aposento, iluminado por uma fogueira. O aroma do sabugueiro queimando permeava o ambiente. Um cobertor de lã felpudo e macio fora estendido no chão, duas taças de vinho ao lado. Estava perfeito para um encontro romântico com sua esposa.

– Lysandra – disse em voz alta. – Onde está você?

– Aqui, meu amor. Você voltou para casa após a guerra, para os meus braços. Senti tanto a sua falta!

– E eu senti a sua – ele disse, atravessando o cômodo de alguma maneira, ainda que não conseguisse se mexer, e tomando-a em seus braços. Ele a envolveu, sentindo seu vigor, seu calor, excitando-se pela maneira como ela movia sensualmente seu corpo contra o dele.

– Prometa que você nunca irá me abandonar de novo. Eu não suportaria perdê-la, ainda que por um instante.

Kratos dilatou as narinas, deliciando-se com o aroma de sua mulher. Seu coração martelava. Os cabelos sedosos flutuavam como nuvens, roçando suas bochechas e acariciando os ferimentos em seu rosto com o mais leve dos toques. Mas ele tentou afastá-la. Algo estava errado. Ela resistiu, sua força era maior do que a dele.

Seu corpo, outrora com vida, estava gelado.

– Lysandra, o que há de errado?

– Nada pode estar errado com nosso amor.

Usando toda a sua força, ele conseguiu empurrá-la. O rosto dela estava retorcido em uma expressão de puro pavor.

– Não me abandone, Kratos. Não fira meus sentimentos!

– Ferir seus sentimentos? Eu teria matado milhares para protegê-la. Eu morreria por você!

Ele suspendeu a mão. Escorria sangue pela espada desferida à frente. Brandiu a empunhadura, escorregadia também por conta do suor e das lágrimas de seus inimigos, mas não era ele, em seu juízo perfeito, quem conduzia a estocada. O odor acobreado do sangue, o brilho repentino das chamas refletidas na lâmina, o equilíbrio perfeito e a borda afiada e...

... e Kratos gritou de agonia ao aplicar mais força, estripando sua esposa. Lysandra agarrou a espada na altura da ferida em seu ventre, cortando os dedos no gume. O sangue de sua esposa se misturou ao de guerreiros mortos por ele. Ela observou a lâmina que a atravessava e depois a expressão de choque no rosto dele, estendeu sua mão, dedos machucados e manchados de vermelho com seu próprio sangue. A angústia inundou sua consciência quando ele se deu conta do que havia feito.

Logo em seguida, os berros de fúria e temor cessaram. O único som que se ouviu foi o do sangue de sua esposa respingando contra o chão. Ele se afastou, a espada se livrou do corpo de Lysandra e suas entranhas jorraram da ferida aberta, empapadas do líquido rubro, e caíram de encontro ao fogo, onde estorricaram até estourar. E, então, fez-se total silêncio, exceto por uma voz familiar.

A voz de uma garotinha.

– Papai, o que você fez?

– Calíope – exclamou para sua jovem filha.

– Ela está morta. Você a matou! Como você foi capaz? – pequenos punhos esmurraram sua armadura. Ele estava revestido por seu armamento completo de batalha e, mesmo assim, Calíope o atacou com a fúria plena de uma criança assustada e nervosa.

Ele girou a espada. Seus músculos se contraíram na tentativa de cessar o golpe. Ele não conseguiu. O punho da lâmina atingiu sua filha em uma das têmporas, derrubando-a.

God Of War 2Where stories live. Discover now