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Havaí, 17 de Abril.

Querido Mar,

Escrever o que sente em um simples papel era considerado uma idiotice para mim, mas olhe só onde eu estou. Não queria somente mais alguma coisa em que só eu pudesse ler, então pensei em entregá-lo a alguém. Mas quem? Conceder o que sinto para um estranho nunca se passou em minha cabeça, mas chega uma hora em que os sentimentos apertam e as mágoas não conseguem ficar presas dentro de um coração, e guardar tudo isso sozinha não é a escolha certa a se fazer, muito menos a mais descomplicada. Entretanto, omitir o que acontece na minha realidade foi a coisa que mais fiz até agora, pois assim só eu sentiria e não traria mais problemas para as pessoas ao meu redor, o que é um grande erro. Magoei muitas pessoas e me machuquei ainda mais tentando buscar uma saída de refúgio. Mas aqui não tinha nenhum lugar, muito menos um espaço para mais um corpo. Talvez seja por isso que eu esteja buscando algo novo para mim nesse momento.

Há um momento na vida em que cansamos de ficar presos em apenas um lugar e sentimento, como se aquele ciclo sem fim nunca fosse acabar, por mais que o nunca seja uma palavra muito forte para a vida que não é eterna. Por isso eu quero conhecer a mim mesma. Preciso pular, dançar, pintar e desenhar; desejo correr contra os ventos do outono e sentir a neve percorrendo pela minha pele, como se aquela sensação fosse única. Ela é, e talvez seja hora de eu prezar pela minha liberdade e ter a autonomia de sonhar o que toda vida ocultei. Sei as consequências, as vantagens e as desvantagens de ser livre, mas quero ser solta como uma folha num furacão, por mais que seja necessário enfrentar a tempestade. Porém, esse é o sentido que sempre procurei, e está na hora de dar uma essência para a minha vida sem viver dentro de uma mentira, como se as pessoas fossem bonecos de plástico. Eu não quero ser mais uma.

Quero um amor verdadeiro como se isso não fosse um medo e tabu. Mas aliás, o receio de amar é tão grande como o medo de não ser amado. Todos que amam estão sujeitos a sentir a dor, aquela angústia de ser rejeitado e não ser compreendido. O amor constrói e destrói sonhos. É um sentimento tão puro e verdadeiro que toma posse da nossa alma e é capaz de nos deixar cegos. No entanto, foi o amar que me privou de tudo.

A vida é um desafio. Acima de tudo, é preciso ter fé. Temos que enfrentar e passar por isso sem negar os sentimentos e as emoções, sem nos esconder. É isso o que eu quero. Liberdade é sentir o que o coração deseja sem ser influenciado pela opinião dos outros. Será que alguma experiência do meu passado influencia nas minhas ações do presente? Apenas quero ser livre do preconceito e profunda no amor, é só isso o que eu peço.

Eu espero que essa carta na garrafa um dia chegue às mãos de alguém, e que essa pessoa não ignore como muitos já fizeram comigo.

Com todo o carinho,

AA.  

Além do MarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora