— Não consigo tocar como consigo cantar. — Explicou tentando me acompanhar — Tentei ter aulas quando era criança, mas não adiantavam nada... 

— Ora, normal. Eu também não gosto de instrumentos eruditos e não sei cantar, mas sei tocar guitarra, sabia?

— Hum... Legal. — Ela respondeu balançando a cabeça e acertando finalmente a ordem das teclas. — "Let it be, let it be, let it be, oh, just let it be / There'll be an answer / let it be"

— É isso aí... Mandou muito bem. — Elogiei, francamente impressionado pela potencia de sua voz.

—  Valeu. — Alison agradeceu com um sorriso simpático.

—  Nunca pensou em participar daqueles programas de calouros?

— Oh, não... Nem pensar. Cantar é algo que eu só gosto e que, por sorte, eu consigo fazer. Mas nunca vai passar disso. — O sinal marcando o fim da aula tocou, alto e estridente por todos os corredores, invadindo as portas das salas e fazendo todos se levantarem ao mesmo tempo.

Fiz questão de continuarmos conversando no intervalo. Eu não daria espaço pra que ela se distanciasse outra vez, já que eu demorei muito pra conseguir aquela brecha. E, caramba, era bom estar ali, só falando trivialidades com alguém que não era um dos meus dois melhores amigos. Alison e eu podíamos nos dar bem, podíamos ter algo saudável e, bem, quem sabe?

— Queria saber... — Fomos para debaixo de uma das marquises depois de comermos, nos protegendo do sol intenso de 29º da primavera e buscando uma sombra fresca — Minha irmã é... Bem o que você e a Madelyn tanto conversam? — Aquilo era algo que eu podia falar, Maddie parecia encantada com ela e eu vi como conversavam tão a vontade uma com a outra de modo que ela nunca pareceu falar comigo ou com o meu pai.

— Oh, nada demais... — Alison encolheu os ombros — Você sabe? Coisas de menina... Vestidos, amigas, esmaltes. — Havia uma nota disfarçada em sua voz, um sinal ligeiro que ela mentia — Mas ela vai lá pelo Tommy e não por mim. — Duvidei, não apenas pela mudança da nota de voz, mas porque Mad parecia mais leve nos dias que se passaram, voltando a falar ao telefone com as amigas e voltando a querer se divertir e a parecer uma criança pré-adolescente comum.

Eu queria conhecer que mágica Alison havia feito, e como havia feito, para aposentar o boné e o casaco (completamente inapropriado para a estação) que as vezes Mad teimava em usar e que representavam um estandarte de sua oscilação negativa de humor. 

— Sei... Agora é sério, sobre o que vocês falam? — Fui um pouco mais sério do que pretendia, mas me perdoei por se tratar da minha irmã, eu queria picar aquela maldita roupa inteira para que ela nunca mais a usasse. Eu só queria que Madelyn fosse feliz e queria saber como fazer isso.

— Ai... — Ela soprou — Josh, nós falamos muitas coisas... Você talvez não entenderia.

— É a minha irmã, Alison. — Fui mais firme outra vez — Eu me preocupo com ela. Eu respeito essa amizade que vocês construíram e tudo, mas isso não muda o fato de que quando ela põe a porcaria daquele boné, ela diz que o mundo externo a está ferindo e eu não tenho ideia de como mudar isso. E se fosse o Tommy? Você não iria querer ajudá-lo ou entendê-lo? Eu só o que eu quero, entende?  

— Eu entendo... — confessou — Mas não diz a ela que eu contei, por favor...

—  Não digo. — Garanti — Pode confiar em mim, Alison.

— É que... Maddie tem problemas de confiança. Muitas meninas tem. — Ela lamentou — Ela tem dúvidas muito grandes sobre o seu pai, ela sabe que ele não está bem, mas ela está crescendo e ele não parece acompanhar isso, pelo que ela diz. Maddie precisa que vocês falem com ela, que se abram com ela e que a aceitem tal como ela é. Se sente sozinha, Josh. Está confusa sobre muitas coisas, está entrando nessa fase em que tudo é novo e exagerado e não se sabe o que se tem que fazer com os sentimentos, as amizades, o sexo. Ela está se descobrindo, as coisas que gosta, os garotos que gosta. As borboletas na barriga...

Juventude à flor da peleOnde as histórias ganham vida. Descobre agora