Capítulo 21

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Oliver

Natal.

Odeio esse dia.

Odeio a semana que precede esse dia.

Porque só me faz recordar todas as decisões erradas que tomei anos atrás.

Engoli minha frustração durante os dias que se passaram e me desdobrei no trabalho às vésperas do feriado para fugir dos meus pensamentos conturbados.

Quase não vi Gianne nesses dias. Andei acordando mais cedo e chegando mais tarde que o habitual. Não queria que meu humor ficasse pior em sua presença.

Não queria que ela me instigasse a falar sobre os motivos de estar ainda mais fechado dentro de mim mesmo. Não tinha certeza de como reagiria, então achei melhor nem testar.

Só tirei um tempo para poder comprar os presentes que agora estão em cima do sofá enquanto aguardo a mulher que divide a casa comigo, descer para podermos ir jantar, primeiro com minha família, depois com os Hale.

Essa é uma tradição que venho seguindo desde que conheci Christopher e Linda. E mesmo odiando esse dia, fico feliz em estar na presença da minha família e dos meus amigos.

- Aconteceu alguma coisa? - Levanto a cabeça encarando a loira no vestido verde e o casaco preto de pelo, pendurado nos ombros.

A sombra marrom da sua maquiagem, destaca ainda mais o azul dos seus olhos. Um batom rosa delineia sua boca e seu cabelo está solto com pequenas ondas nas pontas.

Linda.

Incrivelmente linda.

Não a ouvi descendo, nem ao menos percebi sua aproximação, indício do quanto estou disperso. Precisarei fazer um esforço gigantesco para que ninguém note como realmente estou por dentro.

- Por que pergunta?

Coloco minhas mãos nos bolsos da calça, estudando atentamente seu semblante tranquilo. Não parece pronta para fazer qualquer piada. O que é um alívio.

- Mal parou em casa nos últimos dias... e está com um semblante mais fechado do que de costume. - Seus braços cruzam à medida que me analisa.

O movimento só faz eu desviar a atenção do seu rosto para o decote do seu vestido evidenciando ainda mais a curva seus seios.

Inferno.

Não é hora pra pensar nisso.

- Tive alguns problemas no departamento. - Me limito a dar uma sucinta explicação.

Não é o momento de dividir meus tormentos particulares. Meus segredos mais profundos. Assim como ela também não precisa saber que quase coloquei minhas mãos em uma das pessoas por trás das ameaças que ando recebendo.

Pelo menos depois do tiro que o cara levou, se der entrada em algum hospital, saberei. Do contrário, é menos um infeliz nesse mundo para poder prejudicar um cidadão de bem.

A única coisa certa nessa história é que agora conheço a fonte dos bilhetes e consequentemente, tenho certeza de onde as ameaças vêm.

- Pegou tudo? - Ela acena com a testa franzida.

Estou estranhando que até agora não fez nenhuma piada ou soltou qualquer coisa engraçadinha depois de notar minha falha cometida ao olhar descaradamente para seu decote.

Ao que tudo indica, seu humor também não está dos melhores essa noite. Só espero que corra tudo bem na casa dos meus tios.

As perguntas dançam em minha cabeça a cada passo para chegarmos ao carro parado na frente da casa.

Minha Perdição Where stories live. Discover now