Capítulo 42

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Gianne

Já derreteu.

Quero dizer isso a ele.

Mas não é o momento.

Faz quase dois anos que conheço Oliver Harding e nunca o vi embriagado desse jeito.

Jamais o vi tão... quebrado.

Assim que a notícia do atirador começou a circular na internet e nos jornais, a preocupação com ele me dominou. E vê-lo ao vivo pela televisão entrando na universidade correndo o risco de levar um tiro fez meu estômago revirar.

A primeira vez que soube que se feriu por arma de fogo, de raspão, foi no dia que Anne morreu, isso, poucos meses depois que o conhecemos. A segunda, no atentado sofrido saindo da academia.

Admito que não tive psicológico para suportar a situação sozinha, por isso, quebrei minha promessa e fui para a mansão seguida de perto pelos seguranças.

A morte da amiga de Gracie pegou todo mundo de surpresa. A garota tinha estado em seu casamento, se divertido, aproveitado cada minuto. Semanas atrás nós tínhamos feito compras com Sarah.

Ela era tão nova, tão cheia de vida, e agora...

Oliver ligou preocupado, antes de dar a entrevista pediu para tirar Gracie da frente da televisão. Então Joshua entendeu que precisaria chamar sua médica para poder dar a notícia. O medo de afetar a gravidez da esposa ficou estampado em seu rosto.

Me assustei ao ouvir o som de algo quebrando momentos atrás. Ver o estado em que Oliver se encontrava me desarmou completamente.

O sarcasmo sempre foi um método de escape para esconder meus reais sentimentos, minhas reais intenções. Ao longo dos anos, aprimorei tanto esse meu lado que parei de pensar antes de falar.

Seu semblante sério e fechado jamais poderia me dizer que levava a sério minhas provocações. Não tinha ideia do quanto minhas palavras se enraizaram dentro dele.

Eu o tinha chamado de várias coisas no último ano, de incompetente principalmente. Amava o poder que sentia ao tirá-lo do sério a ponto de ficar com as bochechas vermelhas de raiva.

Agora, só sinto o peso recaindo sobre mim por saber o quanto o magoei com minhas palavras. Nunca pensei que talvez seu jeito de ser fosse apenas a forma como foi moldado pelas situações já vividas.

Não mensurei o quanto podia se culpar pela morte dos pais ou de qualquer outra vida entrelaçada às adversidades do seu trabalho.

Apago a luz do quarto depois de ajudá-lo a tirar seu uniforme e deitar na cama. Não há um minuto de desvio de pensamento no tempo que gasto para que fique confortável.

Levo minha mão ao seu cabelo, pronta para alisá-lo, me assustando quando ele segura meu pulso.

— Fica. — Pede baixo, receoso.

Respiro fundo pensando, contudo, não tenho forças para negar. Tiro minha blusa e minha calça e subo na cama. No estado em que se encontra, duvido muito que tenha cabeça para cogitar qualquer coisa ao me ver de calcinha e sutiã.

Deito às suas costas decidindo se devo ou não abraçá-lo. Mas não preciso fazer nada, ele mesmo vira em minha direção se aconchegando com a cabeça em meu peito, abraçando meu corpo.

Deveria me afastar, mas não posso. Não quero. Sou perfeitamente capaz de esquecer meu orgulho se minha presença trouxer ao menos um pouco de conforto a ele.

Evito pensar que cada dia mais, se torna inevitável me preocupar com Oliver diante de situações como a vivida hoje. Talvez tenha a ver com a promessa que fizemos diante do altar da igreja do padre Honório.

Minha Perdição Where stories live. Discover now