37

374 45 13
                                    

cinco e dez

As nossas vozes não foram feitas para cantar juntas, embora nos divertissem imenso. Doía-me a barriga de tanto gargalhar com o atleta. Com as mãos no volante, cantava e dançava o melhor que conseguia devido ao cinto.

Tomava atenção à estrada, embora poucos carros estivessem à nossa volta. Tentava acompanhar as suas cantorias, mas não conseguia.

Gravei um pouco da sua animação, guardando no telemóvel para que pudéssemos recordar e rir das suas figuras mais uma vez. Trouxe-me felicidade, trouxe-me uma necessidade de arriscar com ele e vê-lo arriscar comigo. Era uma pessoa segura das suas capacidades e de si mesmo.

Apreciava bastante que fosse dessa forma. Que se esforçasse para me compreender e para lidar com a minha personalidade. Creio que não foi difícil, a sensação que tinha era essa.

- O que estás a pensar, Alana? Conheço essa cara e não me agradou das últimas vezes.

- Em nada, Tiaguinho.

- Devo dar a volta ao carro, fofa? - Arqueei a sobrancelha perante a alcunha. - Fala comigo. É a única forma que tenho para te compreender.

- Relaxa, está tudo bem. Estava a pensar no quão fácil tornei as coisas para ti.

- Fácil? Afasta-te cinquenta vezes de mim.

- E tu confiaste que ia voltar de todas as vezes. - A sua expressão tornou-se pensativa.

- Confiei porque queria que voltasses. Alana, tens uma personalidade forte. Tens formas de lidar ou de ver as coisas diferentes da minha. Claro que te quis manter na minha vida depois de te ver caída no chão do meu quarto.

- Isso é tudo fofo, mas irrita-me que sejas tão confiante em relação a mim. - Admiti. - Tens uma forma de lidar comigo que me faz querer voltar. E acho que era nisso que pensava.

- Isso quer dizer que estás disposta a arriscar?

- Estou aqui, não estou? Da mesma forma que me aproximo rápido, afasto-me da mesma forma. - O atleta assentiu, entendendo-me.

Passou a mão da manete das mudanças para a minha perna. Mantive-me imóvel a olhar para ele antes de olhar para a estrada. Começava a chover e ainda tínhamos uma hora pela frente.

- Quando começas o estágio?

- Dia dez.

- Quanto tempo vou ficar sem te ver?

- Não sei Tiaguinho, mas devíamos aproveitar bem estes dois dias. - Pisquei-lhe o olho. - Vamos continuar a fazer o que temos feito.

- Vens dormir a minha casa? - Arqueei a sobrancelha, vendo-o sorridente. - Uma noite ou duas por semana? - Fez beicinho, sorrindo-me no segundo seguinte. Ambos nos rimos.

Aquele seu sorriso bonito, enquanto olhava para a estrada, revirou o meu estômago. Guiei a mão à do atleta, entrelaçando-a à dele.

Virou a cara para me encarar por breves instantes, ficando satisfeito com o meu gesto. Era óbvia a sua reação. Balancei a cabeça, contando o plano para o próximo mês. Falamos sobre estágio e idas ao estádio da Luz.

ACASOS  ➛  TIAGO GOUVEIA Where stories live. Discover now