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seis e meia

- Alana, posso convidar-te para jantar? Como um encontro. - Preparada para sair do carro, hesitei a puxar a maçaneta da porta. Não a puxei. - Sei que tens a tua forma de lidar com homens, mas tenho a minha de lidar com as mulheres e desta vez sou eu que quero levar-te a sair.

Larguei a maçaneta e encostei-me ao banco. Virei a cabeça para o encarar. Processava o convite. E a forma como me incentivava a aceitar.

- Podes negar.

- E se não quiser negar? Vais tu correr o risco de ficar com o coração partido mais tarde? - Engoli a seco aquele seu olhar intenso.

- E se fores tu a correr o risco de te apaixonares pela primeira vez? - Retorquiu. A sua segurança a proferir cada palavra conseguia assustar-me. - Se correr o risco, também corres?

- Parece-me justo, Tiaguinho.

- Isso quer dizer que aceitas jantar comigo?

- Sim, aceito jantar contigo. - Lambi os lábios. Ele admirava-me indiscretamente. Era curioso e essa curiosidade podia trazer-nos problemas.

- Venho buscar-te daqui a uma hora. - Assenti. As minhas mãos alcançaram a porta.

Desta vez, não me impedia de sair do carro.

Foi a primeira vez que o clima entre nós se alterou drasticamente. Havia provocação e algum clima sem dúvida, mas nada assim. Entrei até um pouco atrapalhada no prédio, ainda a processar o convite que tinha aceite.

Um jantar nunca fez mal a ninguém, porém, o que se seguia a seguir, sim. Se ele não tinha essas intenções, eu tinha-as pelos dois. Como não? Sair com ele era bastante divertido, para além de ser o único rapaz que não me quis despir as roupas nos primeiros instantes. Pelo menos, dos que conheci recentemente, tipo o Gonçalo.

O facto de não ser atiradiço, mas ser atraente, era o que me cativava. Não era atrevido, ainda que as provocações fossem no tempo certo. A curiosidade sobre mim, fazia-me querer tira-la. E as sardas só me atraiam ainda mais para ele.

Não me importava de as ver de perto. Ou de sentir a sua boca contra a minha. Ou de conhecer o seu corpo atlético com as mãos. Provavelmente era o que ia acontecer esta noite.

Assim que entrei em casa, procurei pelos meus avós. Estavam ambos no sofá a ver televisão, pois a sopa estava ao lume, alertou a minha avó. Nem soube como dizer que ia sair, então, não o fiz. Fui para o quarto, onde me despachei.

Tomei um banho longo, dado o calor que senti nos trampolins e lavei os meus cabelos. Quarenta minutos mais tarde e estava pronta. Levei a mala, o telemóvel carregado e as chaves para a cozinha, servindo a sopa em duas tigelas. Coloquei ambas na mesa, cobrindo com um guardanapo. Estavam bastante quentes ainda.

- Vou sair! Por favor, liguem-me se precisarem de mim, está bem? Adoro-vos!

- Ves? Eu disse-te que ia dar coisa!

Foi a última coisa que ouvi, antes de fechar a porta. Não queria dar-lhes tempo para perguntas, daí ter saído tão rápido. Desci as escadas, embora ainda ter dez minutos para mim.

ACASOS  ➛  TIAGO GOUVEIA Where stories live. Discover now