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quarta

O feed do meu Twitter era só Benfica e a vitória da noite anterior. Mais uma. Parei numa foto que mostrava Tiago abraçado a João Neves.

O tempo que fiquei a observar aquela foto não era saudável. Sentada com as pernas encolhidas e os cadernos pousadas no banco a meu lado, tinha a perfeita noção que estava a empatar tempo. Ter ignorado as mensagens do Tiago desde que deixei que conhecesse uma nova versão de mim e as dos meus amigos por querer evita-los, nao foi correto da minha parte. Não era correto.

A Olívia já tinha ido para casa, assim como os rapazes. Disse-lhes que precisava de ir buscar um livro à biblioteca, mas não era verdade. Só estava mesmo a ter uma crise existencial outra vez. Com mensagens por abrir, suspirei.

Voltei a deslizar pelo feed das redes sociais, saltitando de aplicação em aplicação. Estava num processo de aceitação. Aceitar o que aconteceu no carro, aceitar que fui vulnerável com o atleta e no fim, aceitar que tinha de os encarar. A Catarina já fazia todo um filme há dias.

Estava tudo bem. Só tinha que me recompor sozinha, para não transparecer a instabilidade da minha mente nos últimos dias. Tal como fazia. As questões em casa também surgiram.

Os meus avós estavam desconfiados que algo se passava. Culpei os meus pais e as chamadas mais constantes que andavam a fazer para cá. Era raro atender e eles sabiam. Porém, era raro ligarem na mesma semana mais que três vezes.

Disseram ser saudades. Que o Natal se estava a aproximar e que tinham data marcada. Dois dias antes do Natal e três dias depois. Era fantochada, preparava-me para fazer fretes.

Creio que desde essa informação que andava mais irritadiça e instável. O meu telemóvel tocou com uma mensagem do Tiago.

E com uma chamada do Guilherme.

- Finalmente. Onde andas?

- Estou na faculdade, porquê? Está tudo bem?

- Isso pergunto eu. Andas a evitar-nos há dias e hoje é só mais um. - Suspirou. Ouvia passos, pois não estava sozinho. - A Catarina contou o que se passou com a tua prima. Achas que te pintamos dessa forma? É por isso que...

- Que filme, Gui. Não é nada disso. O meu avô andou doente, não queria deixá-lo sozinho. E não fiquei muito bem depois da bebedeira.

- Nunca foi motivo para nos evitares. Até para a tua casa nos convidavas se fosse preciso.

- O que queres que te diga?

- O que se passa contigo. Estás distante. Andas a conhecer alguém? Estás triste connosco? Ficaste a pensar no que disse a Vitória? Nenhum de nós faz de ti o que não és. Brincamos sim, mas todos te respeitamos acima da tudo.

- Eu sei. Não acho que andam a dizer aos vossos amigos que sou uma galdéria. - Revirei os olhos a constatar o óbvio. - Eu própria faço comentários, ok? Não se trata disso.

- Então?

- Cenas de casa, não quero falar.

- Podes, por favor, vir ter a minha casa quando chegares de Lisboa?

- Sim, tudo bem. Mas não me chateiem a cabeça com esses dilemas. - Pedi. - Sabem que não gosto dessas coisas. Está mesmo tudo bem.

ACASOS  ➛  TIAGO GOUVEIA Where stories live. Discover now