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terça

- Tu vê lá o que fazes! - Resmunguei com o Guilherme. Brincava com a bola nos pés e muitas vezes parecia perder o controlo.

Estávamos novamente reunidos no jardim. Eram quase cinco e meia da tarde. Passei a manhã toda diante do computador e depois no supermercado, visto precisar de comprar algumas coisas. Com os meus avós sempre de um lado para o outro, era o habitual todos os meses.

Fazíamos compras para todo o mês. Desde carnes, a frutas, massas e diversas outras coisas a completar a lista feita pela Maria Amélia. Fazia a sua lista antes de sairmos de casa.

Sendo a única pessoa presente nas suas vidas, oferecia boleia para cada consulta de rotina, para os supermercados e para qualquer outro sítio que me pedissem para ir. Era o mínimo. Usavam todo o dinheiro da reforma para a casa.

A única maneira de os ajudar era com o carro. No entanto, não eram nada exigentes.

Todos os meses os meus pais depositavam na minha conta bancária um valor redondo para que pudesse pagar as propinas, ajudar em casa e ficar com sustento para mim. Era muito poupada. Não gostava de esbanjar só por ter bons zeros.

Há anos que se ausentaram da minha vida para iniciar uma nova etapa noutro país. Foram muito bem sucedidos profissionalmente. O lucro tardou mas chegou. Falava pouco dos meus pais, porque não foram eles que me criaram. Precisava de uma coisa que jamais me deram.

Deixei de me importar com a falta de chamadas e com o dinheiro que chegava para me silenciar. Os dias passaram, a vida mudou e eu cresci. No final do dia, não sentia a saudade.

Dei por mim a ser abraçada pela cintura e rodada nos braços do Gonçalo. Chegou não sei de onde, a minha confusão foi gigante por estar longe, não o vi ou ouvi chegar. Ao pousar-me no chão, deixou-me um beijo rápido na testa.

Forcei um sorriso por ainda me sentir atordoada com a viagem mental que fiz. Sentei-me na mesa, ao lado da Cat, deixando-os no mundo deles. Não deixei de olhar para o rapaz.

Parecia muito mais bem disposto que no dia anterior. Nunca pensei que me abordasse logo no dia seguinte ao término do que não começou. Por gostar dele, fiquei satisfeita. Notava-se que estava a esforçar-se para ser uma pessoa melhor.

- Queres contar-me porque estás tão na lua?

- Ontem disse-lhe que não queria nada sério. - Os seus olhos esbugalharam. - E hoje ele está aqui. É só surpreendente, acho eu.

- Como assim? Pensei que tinham ido sair. Foi no próprio date que lhe deste para trás?

- Basicamente. Ele está a confundir as coisas e eu não estou no mesmo patamar que ele. Acho que é só conhecer-me minimamente. Quero ser livre de fazer o que quero e me apetece.

- Sabes que liberdade e relação não são opostos, certo? Podes ser livre e estar com alguém. - Olhei para ela, encolhendo os ombros. - Ou vais viver a tua vida com beijinhos na boca e one night stands, Alana? - Soltei uma risada.

- Até parece que tenho noites com alguém! - Dei-lhe uma leve cotovelada e ela sorriu. - Só tive esse tipo de aventuras duas vezes e bastou-me!

ACASOS  ➛  TIAGO GOUVEIA Where stories live. Discover now