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quarta

O som do meu carro fazia-se ouvir na vizinhança, após ter chegado ao jardim. Estacionei-o, embora não o ter desligado de imediato. Sai do mesmo de modo a aproximar-me das mesas, onde Cat, Xavi, Guilherme e Filipe se reuniram.

Eram quase cinco e meia da tarde. Não precisava de me preocupar com os meus avós, porque sabia que estavam com os meus tios. Tinha chegado do caos de Lisboa há meros instantes, sendo que me pediram para passar no jardim. Não sabia do que queriam falar comigo, mas decidi aparecer. Logo, as caras sérias preocuparam-me.

Assim que os cumprimentei com um choque de punhos, como era costume, fui direta ao assunto, perguntando o que se passava.

- O Gonçalo anda a brincar com o fogo.

- Convocaram uma reunião por causa dessa pessoa? Ai por favor, achava que era relevante. O que andou a dizer de mim?

- Que admitiste que gostavas de ser rodada. - Cat virou o telemóvel para mim. - Estava em live com a Cátia e os amigos. Foi ontem à noite. - Ouvi tais palavras e não me incomodou.

- Não te vais passar? Ele está a difamar-te.

- E queres que faça o quê? Que chore? Não devias dar tanta importância, Filipe.

- Vou dar-lhe uma tareia, que vai esquecer que existes. - Revirei os olhos, voltando ao carro para o desligar. Tão cedo não ia sair dali.

- Ninguém vai bater em ninguém, Gui. Voltamos a ter dezasseis anos e eu não sei? É insignificante o que pensa ou não de mim. - Sentei-me a ouvir o resto do vídeo que a Cat tinha gravado.

- Ele difamou-te. É grave.

No instante em que ia reforçar que não valia a pena dar importância, o Filipe levantou-se rápido da mesa, deixando-nos sem reação. Foi então que reparamos na chegada do Gonçalo. Os rapazes só foram atrás do melhor amigo.

Rapidamente o Gonçalo foi agarrado fortemente pelos colarinhos. Filipe ameaçou-o ao garantir os os seus dentes partidos se voltasse a falar de mim ou a olhar para mim. Empurrou-o.

Levantei-me da mesa para ficar mais alerta, pois o Gonçalo não se ia deixar ficar. Nem esperava os seus comportamentos quando começamos a falar há umas semanas, parecia outra pessoa. Nem um remorso sentia de o deixar.

Um bate-bocas iniciou-se, levando Gonçalo a dar o primeiro murro ao Filipe, embora de raspão. Os punhos deste procuraram o rosto do atrasado do conflituoso, acertando. Os seus amigos entraram na confusão, obrigando Guilherme e Xavi a fazer o mesmo, para proteger o nosso amigo.

Aproximei-me sem hesitar, vendo Cátia a dar alguns passos na minha direção. Consegui tirar o Filipe da confusão, separando-os. Xavi puxou-o e nenhum deles estava a bater.

- Estás assim tão ressabiado? Podes continuar a fazer esse live, para que saibam o quão palhaço o teu amiguinho é.

O meu pulso era agarrado pelo Xavi.

- Porque não contas a espera que me fizeste ás onze da noite à porta de casa? Não quero nada de ti, aceita e segue em frente. Só te humilhaste. - As mãos da Cátia tiraram o telemóvel da mão da sua amiga, para terminar o direto.

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