Sim, este é o último capítulo. Boa leitura.
A vida sempre está em constante mudança: podemos contemplá-la e nos adequar a elas, ou ficar para trás.
Quase dois anos se passaram desde que eu me hospedei por um mês e algumas semanas em um acampamento religioso que tinha como principal premissa encerrar a mais fatídica e pecaminosa fase pela qual eu supostamente estava passando: a bissexualidade.
Não posso dizer que a experiência foi inteiramente boa. Passei por muitas coisas ruins e tive que aprender na marra como me portar mediante algumas situações. Conheci pessoas ruins segundo meu julgamento subjetivo e pessoas boas, que me acolheram dentro do que eu sempre fui, me apoiaram e se tornaram pilares da construção das minhas opiniões e convicções a respeito de um mundo em que eu ainda estava aprendendo a existir.
Fiz amigos. Conheci diferentes pontos de vista, tive de coexistir com personalidades extremamente contrárias às minhas e aprendi muito com isso.
Encontrei dentro de mim um altruísmo verdadeiro e não meramente construído com o objetivo de alcançar um paraíso pós-vida.
Brinquei, me diverti, participei de novas experiências.
Me apaixonei, tive meu coração partido.
Comecei a amar. Não só as pessoas à minha volta, mas a mim mesma. Comecei a me amar. A amar minha orientação sexual, minha personalidade, meu humor, minha impulsividade, minha confusão, minha indecisão.
Comecei a amar Kim Dahyun, inteira, com todos os seus defeitos e méritos.
E principalmente: no Acampamento Irmãos da Fé, eu tomei no meu cu.
Cortei a perna e precisei dar quatro pontos. Tive que ficar mancando por aí, fugindo do trio imbecil taeminkook que insistia em pedir emprestado a minha muleta; caí durante a corrida de revezamento e quase quebrei o nariz da minha companheira de equipe; levei várias boladas na cara; caí de cara em um monte de cascalho e pedras soltas; fiquei presa em um cômodo escuro e sombrio de um celeiro abandonado; quase tive que dormir em um saco de batatas; levei um fodendo soco de Lalisa Manoban; tive um pênis enorme e veiudo desenhado na bochecha enquanto dormia; bati de frente com uma freira... enfim, haja cu para tomar.
E não posso esquecer das inúmeras piadas de mãe que aprendi.
Bom, depois de um tempo, quando o contato com os amigos que tinha feito no acampamento deixou de ser frequente e, por causa da distância, eu deixei de ver muitos deles, pensei que não conseguiria manter a estabilidade que tinha aprendido a ter junto com todos eles.
Mas o mundo continuou girando, as coisas continuaram mudando e quando eu vi, eu continuava bem.
Tinha terminado o ensino médio ainda com um pouco de sanidade, entrado no curso de graduação que desejei o ano todo e estava agora, junto com minha namorada — que conseguira, após muitos currículos entregues e resultados decepcionantes, um emprego que seria o suficiente para terminar a faculdade com conforto e independência financeira, além de finalmente ter começado a se consultar com um psicólogo, trabalhando nas suas complexas e pendentes questões —, procurando apartamentos que pudéssemos alugar juntas, pois eu pretendia sair logo da casa dos meus pais. Por mais que eu os amasse muito e estivesse orgulhosa do amadurecimento deles com relação a aceitação de quem eu sou, eu queria não dever mais à eles certas satisfações acerca da minha vida amorosa, social e acadêmica.
As coisas estavam fluindo, algumas mudanças vinham abruptamente e mudavam o rumo de certos aspectos da minha vida, mas, no geral, eram mudanças brandas, com as quais eu estava aprendendo a lidar com a sutileza requerida. Mesmo com todos os problemas, eu estava bem.
YOU ARE READING
Acampamento A.G
Teen FictionAcampamento Irmãos da Fé; mais conhecido pelos visitantes frequentes - jovens com "probleminhas na vida religiosa" - como A.A.G, ou, Acampamento Anti Gay: um lugar para onde os pais mandam seus filhos ao demonstrar sinais de desvios referentes ao cr...