Descontração;

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»Kim Dahyun«

Caminhei com dificuldade;

Ao meu lado, Minatozaki Sana cantarolava alegremente, enquanto andava de maneira saltitante. Me alegrava vê-la feliz, ainda mais enquanto havia um sorriso satisfeito brilhando no seu rosto adorável.

Eu deveria estar tão animada quanto ela, afinal, estava indo retirar as bandagens — todos os pontos já tinham caído, para a minha inteira satisfação — e me livrar de uma vez por todas da muleta, mas eu não estava nem um pouco animada. Após me livrar do torpor mental ocasionado pela animação do dia anterior, eu me sentia levemente apavorada.

Ergui o olhar quando atravessamos o portal da enfermaria, cuja porta estava escancarada, indicando uma saída apressada ou uma entrada alarmada. A primeira alternativa era a correta, constatei que não havia ninguém nos aguardando no cômodo. Sana adentrou um pouco mais a sala de consulta para averiguar se tinha alguém no pequeno salão dos fundos, que era realmente usado como enfermaria, e onde eu fiz os pontos. Olhou para mim com uma expressão indagadora então, e eu só encolhi os ombros.

— O sr. Sobrancelhas já deve estar voltando, vamos esperar.

A expressão da ruiva se contorceu de uma maneira engraçada ao ouvir o apelido dado por mim ao nosso enfermeiro, mas assentiu à ideia de esperarmos.

Tinha uma cama com armações de metal no canto da sala de consulta, e foi onde nos sentamos para aguardar.

Sana se distanciou de mim apenas para poder se deitar sobre minhas pernas e eu, de maneira instintiva, comecei a fazer algo similar a um cafuné na mais velha.

Ficamos assim por uns instantes, e enquanto ela brincava distraidamente com um objeto metálico que tinha pego na mesa do enfermeiro, minhas mãos passeavam por seus fios sedosos, e o ruivo ficava tão bem sob a palma pálida da minha mão que me provocou um sorriso.

Mas meus pensamentos logo vagaram para longe do tom laranja avermelhado do cabelo da mais velha, e eu fui novamente introduzida a confusão que eram meus sentimentos. Eu tinha dito à mim mesma que ia pôr um fim à situação com Sana! Exclamei, mentalmente me castigando pela fraqueza: por ter sido induzida a continuar beijando a japonesa no momento em que seus lábios fizeram contato com os meus. Claro, eu não poderia dizer que não tinha gostado, porque foi um beijo tão intenso e maravilhoso que seria difícil eu degostar. O problema é que eu tinha concluído que seria melhor ignorar os sentimentos crescentes que desabrocharam em meu íntimo com relação a Minatozaki, e seria decididamente mais difícil fazê-lo depois de ter sido beijada por ela. E ainda tinha mais uma coisa...

Sana não tinha me contado o porquê de não ter me beijado antes, durante os nossos momentos de "diversão íntima", mas eu descobri posteriormente, no dia em que a ruiva me confidenciou o motivo que a levara a frequentar o acampamento.

Como símbolo de sua confiança, uma garota beijou-a quando ela estava se descobrindo, e um tempo depois a japonesa descobriu que havia sido traída; não dentro de um relacionamento monogâmico: sua confiança havia sido traída. Sana deixou no ar uma frase que sugeriu, implicitamente, a desconsideração sobre a ideia de beijar sem haver real sentimento envolvido após isso, porque um ato simples como um beijo se tornou um forte símbolo de comprometimento. Claro, isso para a infantil Sana de treze anos. Ela poderia ter mudado esse pensamento, assim como sua personalidade foi se alterando com o passar dos tempos até os seus atuais 18 anos.

O beijo poderia mesmo significar que meus sentimentos pela japonesa eram recíprocos, pelo menos em parte. Mas também poderia significar só isso... um beijo. Ela podia muito bem ter pensado que já estava na hora de intensificar o nosso contato, que sempre fora um pouco mais íntimo. Ou, também, podia ter considerado o beijo como um agradecimento pelo meu breve surto na palestra. Todas as alternativas citadas condizem bastante com a personalidade conflitante de Minatozaki Sana.

Acampamento A.GWhere stories live. Discover now