Sorrisos;

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»Kim Dahyun«

Foi uma situação engraçada;

Assim que eu vi o cartão encarando-me inocentemente — falando de maneira figurativa — do interior da gaveta, sendo o único objeto não empoeirado do móvel, soltei a mão de Sana, empurrando-a para longe logo em seguida, muito mais contente em alcançar meu objetivo do que em fazer as pazes com ela.

— Ganhamos! — exclamei, extasiada, ao apanhar o cupom amarelo e erguê-lo no ar como se fosse um tesouro inestimável, encontrado depois de anos de procura e estudos a seu respeito, quase como um baú de ouro. — Eu vou poder assistir desenhos novamente!

Me sobressaltei com a risada adorável de Sana, lembrando-me em cima da hora que ela ainda estava comigo.

— É pra isso que nos empenhamos tanto? Pra você assistir desenhos?

— Não entendi esse sorrisinho irônico — apontei, acusatória. — Acho que não existe coisa mais digna do que dar a vida por desenhos animados.

— Meu deus — ela murmurou, apertando a ponte do nariz em uma falha tentativa de parecer decepcionada, mas não conseguiu esconder minimamente o sorriso largo que ainda estava presente nos seus lábios e parecia não querer abandonar o posto. —, eu me apaixonei por uma pirralha que assiste desenhos.

Evitei mencionar, em uma resposta bastante infantil, que ela não tinha tanta propriedade assim para falar de mim, tendo em vista que possuía pelo menos uns quatro perfis sociais com foto de anime; estava gostando demais de termos voltado a nos falar para lhe dar esse tipo de alfinetada, ainda mais sabendo como fãs de anime “podem ser duros às vezes.”

Outro motivo, também, para eu não ter dito o que veio na minha mente a princípio foram as palavras utilizadas por ela. Eu tinha acreditado da primeira vez que ela dissera estar apaixonada por mim, pois depois daquela declaração explícita, seria difícil considerar seus sentimentos como uma suposição, mas ouvi-la repetir isso com tanta naturalidade e calma me desconcertou, fazendo com que a parte de mim que não estava pensando na melhor forma de revidar sua “indireta direta” resolvesse que seria interessante soltar um rojão no meu coração, de forma que ele acelerou além da conta.

— Ainda não me acostumei com isso — franzi a ponte do nariz, costume que tinha perdido, mas que retornou com tudo ao me encontrar em uma situação que só tinha sido precedida na minha imaginação. — Com você gostando de mim.

Ela sorriu, fazendo um carinho suave no próprio braço, um pouco vermelha.

— Eu espero que se acostume — respondeu, voltando seu olhar para o meu depois de alguns instantes. — Porque eu pretendo demonstrar isso da melhor forma daqui para a frente.

Sorri também, indiferente ao quanto a cena seria melosa para qualquer outra pessoa que não estivesse dentro da bolha de romantismo que havia se formado ao redor de Sana e eu.

— Ah! — arregalei os olhos, lembrando-me, com um pânico ligeiro, que o ideal seria levarmos o cupom para algum funcionário antes que as estrelas aparecessem com mais nitidez, pois nem elas seriam capazes de iluminar a penumbra anormal do celeiro quando o sol desaparecesse no horizonte. — Já tá anoitecendo, melhor irmos logo.

— Sim — Sana concordou, erguendo um olhar preocupado para a entrada do celeiro, de onde uma tênue luz solar ainda nos impedia de cair no terror mais horripilante que poderíamos enfrentar.

Estava esperando que ela desse início a nossa caminhada de retorno, mas, em vez disso, virou-se para mim e sorriu novamente, mas já não era mais aquele sorriso terno e cativante, e sim o habitual sorriso de “e se eu fizer uma idiotice?” que já era comum aos lábios de Minatozaki.

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