Estranheza;

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como foi dito nos avisos que antecedem esse cap, a história já está sendo publicada há um tempo e está "completa" até o capítulo 20, por aí, e em breve todos serão publicados aqui

»Kim Dahyun«

Respirei fundo;

O crepúsculo se espalhava pelo horizonte, transformando o azul celeste do céu em um laranja avermelhado, um panorama adornado de beleza. Normalmente eu acharia a paisagem digna de vários minutos fotografando: digna ser apreciada pelo tempo que me permitissem.

Mas eu não estava observando o pôr do sol da minha maneira habitual: olhando através da janela do meu quarto, fitando a luz do nosso astro rei ir desaparecendo gradualmente entre os arranha-céus, até se extinguir por fim. Não. Eu estava a quilômetros e quilômetros de distância do solo, quase na altura das nuvens, com as unhas cravadas nos braços da poltrona do avião, implorando à quaisquer divindades existentes que permitissem a aquela droga de pássaro de metal chegar ao seu destino… Com todos vivos, por favor.

Eu queria fechar a cortina da janela, pois isso me permitia ver o quão afastada eu estava do belíssimo e seguro chão, mas estava paralisada e amedrontada demais para piscar.

Eu nunca fui medrosa com coisas que certamente assustam muita gente, como palhaços, fantasmas, ou ver os avós transando. Dificilmente alguém conseguia me pegar desprevenida ou me assustar.

Mas a altura... Ah, a porcaria da altura.

Sempre que eu me encontrava em um lugar consideravelmente alto, era como se diversos braços invisíveis fizessem esforço para pressionar meus pulmões, obstruir minha respiração. E mais, os braços invisíveis estavam sempre carregados de gelo, pois mesmo suando como uma porca de corrida, eu sentia meu corpo inteiro gelar a cada olhar de esguelha que lançava contra aquela janela.

Me subjugar ou enganar a fim de que eu suba em um lugar alto praticamente declara sua inimizade, e a pessoa que cometer tal traição rapidamente é adicionado à minha lista mental de pessoas em quem eu gostaria de aplicar meus ataques defensivos.

E ali, bem ao meu lado, encontravam-se duas pessoas que estavam prestes a conseguir um lugar privilegiado na lista em questão: meus pais.

Meu pai dormia; o óculos de aro de tartaruga torto sobre o seu rosto macilento. Me senti irritada por ter de ouvir seus roncos baixos enquanto eu fazia esforço para me enfiar ainda mais dentro da poltrona.

E minha mãe lia calmamente uma revista de economia doméstica, indiferente ao meu surto interno.

Tentei acalmar a mim mesma, pensando no que meus melhores amigos diriam se estivessem ao meu lado.

“Uau, Dahyun, nunca pensei que você pudesse ficar ainda mais pálida do que já é normalmente”, consegui imaginar um comentário irônico de Nari, minha melhor amiga, com maestria. “A transparência é o próximo passo?”

“De onde sai tanto suor?!”, a voz de Hugo praticamente ecoou nos meus ouvidos, como se ele definitivamente estivesse ali. “Já sei quem está secando nossos rios.”

Canalhas. Esqueça esses idiotas. Disse a mim mesma, me irritando com os comentários maldosos que eu mesma inventara.

Xinguei baixinho, mas logo me arrependi da ação, e, mentalmente, pedi desculpas a… Bom, a Deus? Eu já não tinha mais certeza.

Posso dizer com veracidade que mesmo com o cristianismo sendo uma das religiões mais pregadas na Coreia do Sul, o catolicismo era pouco propagado por aqui, mas não significa que fosse inexistente, e a prova disso era o casal Kim ao meu lado.

Acampamento A.GWhere stories live. Discover now