VERDADES QUE LIBERTAM

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Quando Filipe informou que Heloísa precisava de mim, às pressas, subi as escadas, porém sem chamar atenção.
Guedes me aguardava na porta do camarim. Depois Brenda e papai se juntaram à platéia. Presenciar aquela cena pelo celular foi pior que o acidente com meu avô. Sentei no chão no corredor para suportar chegar até o fim e não interromper o plano deles.

Eu sonhara com o dia que ouviria o que ela fez com o dinheiro, a revelação foi maravilhosa - ela não aceitou o dinheiro - essa possibilidade eu nunca cogitei. Enxerguei o quanto eu sou desprezível, nem ao menos duvidei dela, tampouco acreditei quando me pediu ajuda.

A cada descrição da mamãe eu me tornava desestabilizado - e me perguntei de onde ela tirou tanto ódio - a mulher que falava não era minha mãe.

Ver Heloísa partir com Guedes me deu conta que eu não fui o homem que ela merecia.

Como poderia impedi-la de partir depois do que eu ouvi? Atordoado voltei para o evento. Allegra não mais se encontrava e Virgínia sorria para os convidados como se nada tivesse acontecido, bebendo champanhe e brindando com a amiga.

Ela falou que machucaria minha filha para atingir seu propósito, isso me incomodava e não me deixava chegar perto dela.

Tive receio de esquecer que ela é minha mãe.

Ela saiu do evento antes do término. Brenda foi a mansão atrás dela. Eu e papai chegamos a tempo de vê-la exigindo saber de sua história, Filipe tentava afastá-las sem sucesso. Ele saiu para esperar a namorada fora da mansão depois de nossa chegada.

- Sente, mamãe! - falei segurando seu braço, impedindo que fugisse e usando um pouco do respeito que ainda existia - Não podemos adiar essa conversa. Vamos entender que raio de família é essa.

Ela sentou com os braços apoiados na lateral da poltrona, nos olhando como se fôssemos súbitos e não sua família.

- Não vou explicar nada. - falou olhando para papai, numa demonstração de poder e arrogância. - Essa história não termina aqui.

- Suas chantagens terminam - respondo, diante do ar de reprovação dela, adquirindo o controle da situação. - Suspeitava que a senhora estava envolvida no caso do pai de Heloísa, a mulher é funcionária de Allegra.

- Você estava me investigando? - ela perguntou incrédula.

- Descobri hoje que Allegra não é a mandante do crime.

- Allegra, o que ela fez? - Muda de tática, fingindo que não estava entendendo - Filho, aquela mulher...

- Pai, fale o que o vovô fez - interrompo mais uma vez dirigindo a mamãe um olhar de censura. - Conte como fui idiota todos esses anos acreditando que vovô me amava e que mamãe se importava com a família.

Tentando esconder a impaciência, passo seguidamente as mãos nos cabelos. E torcendo ouvir dela que estava arrependida.

Papai faz um resumo do que passou com vovô para Brenda, até chegar em Erik, sua morte e a descoberta da traição por causa da gravidez, eles não dividiam a mesma cama há tempos, o tormento das chantagens para ficar com a criança. Virgínia ameaçou tirar, depois que nasceu sumir com ela, e, quando Brenda cresceu usava contar a verdade para ela.

Brenda no completo silêncio, encolhida no canto do sofá, olhava para nossa mãe que ouvia com um sorriso no canto da boca, porém os dedos trêmulos e o pé balançando denunciavam que ela sabia não ter mais controle sobre nós.

A maldição havia quebrado. - pensei.

- Eu amei você, filha, desde quando soube da gravidez, sim, porque você é filha do Erik, agradeço Virgínia por me trair. Eu tenho você. Eu te amo.

Amor ValiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora