FAÍSCAS DE AMOR

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Acordo com Vinícius segurando a minha mão, para não despertá-lo,
tiro ela bem devagar e saio do quarto indo para cozinha tomar água.

Faltando pouco para amanhecer, contemplo o que resta da noite através da parede de vidro.

"Eu tenho ambição?"

Quero me formar, ter uma chance de exercer o que estudo, mas não qualquer emprego ou em qualquer lugar. Quero mudar minha realidade, saindo daquele bairro. Tenho um sonho de ter meu apartamento, porém é uma meta para o futuro.

"Esta garçonete é minha namorada."

Se eu estivesse no lugar dele também teria me ignorado, naquele momento senti tanta vergonha que tive que segurar a bandeja com as duas mãos, mais uma vez a raiva por ser pobre me dominou e ciúmes ao ver aquela mulher ao lado dele.

"Quando já havia esfregado os peitos nele durante a dança."

De todos os olhares de desprezo que já recebi, o da Toda Poderosa foi o mais destrutivo - e só o dirigiu para mim uma única vez - ela me faz sentir pior que o vaso dos banheiros que eu limpo na Solis, sou invisível para ela tanto com um rodo ou uma bandeja na mão. Enquanto na festa praticamente jogava um tapete vermelho para a anfitriã e sorria ao vê-los dançar. Devia está pensando:

"Ela é perfeita para Vinícius: linda, rica e com sobrenome."

Estou me menosprezando, mas o que eu tenho para oferecer a ele? Eu nunca estarei no nível de ser mais que uma amante.

Eu pensei ser imune ao romance, agora estou magoada, orgulho ferido e com ciúmes e sem saber lidar com a situação.

"Você é uma idiota, Heloísa. Uma coisa é o homem perfeito ter tesão por você, outra é ele se apaixonar."

Sussurro enquanto ando pelo corredor de volta ao quarto. A porta ao lado chama minha atenção, ela está sempre trancada, se é só o escritório, por quê não posso entrar? O que ele esconde?Vou até ela e só a maçaneta se move.

Ao entrar no quarto, apresso os passos, escuto Vinícius falando algo e deitar de peito para cima, o abraço, falo seu nome e que estou ao seu lado, seguro a sua mão e deixo perto do meu rosto. Ele vai se acalmando.

Estou apaixonada por este homem, é melhor dar um fim a esta história, lágrimas descem ao constatar meus sentimentos e largo sua mão, mas sou impedida de sair dos seus braços.

- Desculpe, não queria te magoar. - Vinícius me aperta entre seus braços. - Nem te fazer chorar.

-Não estou chorando, você está bem?

- E por que minha mão está molhada? Venha mais para perto. Foi apenas um sonho.

-É sempre o mesmo? - ele não responde, seco o rosto molhado. - Não é a primeira vez que te vejo agitado enquanto dorme.

-Eles são diferentes, mas neles o meu avô sempre morre, só não muda o culpado: o neto.

Alguns segundos em silêncio e após um beijo no topo de minha cabeça, ele inicia o relato do acidente, as palavras duras do avô, a discussão no trânsito e o acidente, dias no hospital e a culpa que não o abandona nem mesmo dormindo. Chora em meus braços, mas vai para o banheiro quando esboço um consolo.

- Não sou o super-homem - fala sentando na cama, o vermelho nos olhos era evidência do choro, mesmo depois de lavar. - Além de ter muitos defeitos, alguns encobertos, eu sou um filho da mãe, não quis te ofender.

Pensei em dar uma resposta malcriada, mas decidi ficar de boca fechada. Mentir que não estava ofendida, não era o certo. Levanta e volta com um pote, põe para tocar jazz no celular, pega as minhas mãos e inicia uma massagem.

Amor ValiosoWhere stories live. Discover now