DESTINO MUDADO

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- Você estava cantando? - pergunta Tomás, invadindo meu escritório, afasto da estante e viro para ele. - E dançando, eu gravei.

Anda com o celular me filmando.

- Logo cedo querendo saber da minha vida? - pergunto e pego um livro na estante para disfarçar. - O seu bebê como está?

- Sem febre, mas ainda precisa ficar internado esperando resultados de novos exames. - responde sentando na cadeira de visita. - Sofia está com ele. Tenho duas reuniões, depois vou embora.

Ele exibe no celular um vídeo, eu movimentando os ombros e a cabeça.

- Apague. - Ordeno, ele toca em compartilhar, tomo o celular e assisto o vídeo. - Só lembrei de uma música.

Apago e devolvo o aparelho. Ele sorri, sem o barulho da alegria que é próprio dele. Sentando pergunto:

- Por que está preocupado, os exames anteriores descartaram pneumonia. Há algo mais?

- Sofia chorou horrores sentindo-se culpada, acha que foi negligente com as crianças por causa do trabalho.

- Todos que conhecem vocês sabem o quanto são dedicados.

- Não adiantou falar, a babá conseguiu acalmá-la, mas não aceitou sair do hospital.

- O mais grave que enfrentei foi uma dor de barriga, consegui vencer com ajuda de Patrícia, só fiquei tranquilo quando ela parou de gemer. - Ele mostra uma foto da esposa dormindo na cama do hospital. - Faça como disse, vá para casa.

- Sim, senhor Borges. Trouxe os documentos que pediu, junto um relatório de avaliação para nossa reunião mensal.

Acertamos nossas agendas e falo como estou fazendo para ficar entre as duas cidades, vou para Santana do Livramento durante a semana só quando tenho que ficar com Carina.

- Sua filha não é a responsável por esse sorriso, Heloísa é a causa principal.

- Sim. - respondo, não querendo falar muito. - Tenho uma reunião com a empresa que fará o evento de comemoração da fundação da Solis.

Os meus lábios não conseguem esconder a euforia em ouvir o nome dela.

- Reataram, tudo foi esclarecido, vai morar com ela? - Ele puxa a cadeira para mais perto da mesa. - Fale logo a razão desse sorriso e da dança.

- Dormi na cama dela, não, apenas dormimos, ela segurou minha mão, apaguei - Encosto na cadeira e não escondo o sorriso. - Foi a primeira vez que conversamos sem a tensão habitual e não vi raiva em seus olhos. Foi muito bom.

- Isso quer dizer que perdoou o fato dela ter pego o dinheiro.

- Não sei, estou me controlando para não na verdade me policio, não quero que soe como cobrança quando tiver que conversar sobre isso - Dou uma pausa. - Pretendo conversar, entender, talvez aceite a explicação.

- Esqueça esse dinheiro, é falar nele que sua expressão muda.

Descanso os braços sobre a mesa, frustrado.

-Não sinto aquela angústia, o desejo de fazê-la sofrer, mas tenho a impressão que tem um buraco nos separando e o dinheiro está no centro.

- Foco, estar morando mais perto dela, falou com a família, marcou território. Qual o próximo passo?

- Terminar com Allegra, espero que não passe um mês fora do país. Sou capaz de ir onde ela estiver.

- Sua mãe continua fazendo propaganda do seu casamento.

- Virgínia é o menor dos meus problemas, ela não é maluca de oferecer grana para Heloísa de novo.

- Não sei, porém ela anunciou que o pedido será feito na grandiosa festa da Solis, minha sogra ouviu numa dessas recepções que elas fazem para exibirem as jóias.

Amor ValiosoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt