VINÍCIUS

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- Quem aprovou essa campanha?

- Eu senhor, seguindo sua indicação em atingir uma camada da sociedade inferior...

- Esta camada da sociedade será nosso cliente. Desde quando ofendemos nossa clientela?

Jogo sobre a mesa de reunião os panfletos e folders para divulgação da campanha. Em pé atrás da minha cadeira examino cada rosto da equipe de marketing.

- Fale o número de renovação de apólices, neste semestre. - Peço ao diretor do setor.

- Oitenta e dois por cento, senhor, e desses, trinta e quatro na renovação não foi acrescentado o valor máximo de aumento de preço das apólices, fora que, ainda estamos aguardando resposta de um número expressivo de mais quinze por cento e a certeza do restante não foram renovadas, se não teríamos perdas para mantê-las ativas.

- Solis Seguradora, para quem não dorme no ponto! - puxo a cadeira, mas não sento, ando em volta da mesa. - Ponto de que, onde ou quando? Não precisa indicar os defeitos de alguém para vender. Estão chamando os futuros clientes de preguiçosos?

O diretor do setor financeiro me olha com um sorriso no canto da boca. É o único que me afronta, displicente, passando a caneta nos cabelos afro, a aliança larga de noivado se destacando na pele negra. Estreito o olhar, ordenando que se recomponha.

- Retirem imediatamente esta campanha das redes sociais da empresa!

- Parte do material já foi impresso...

- O diretor da Solis, sou eu! - Interrompo o gerente de marketing. - Quando aprovei esta campanha?

- Foi sua mãe. Ela falou que essa parte da população não sabe a importância de se ter um seguro...

- E pelo jeito continuarão sem saber com essa campanha medíocre - Volto para minha cadeira, pego os materiais e jogo em direção ao gerente. - Primeiro sou eu quem decide tudo nesta empresa. Segundo; Ana Virgínia, é vice-diretora de honra, suas decisões são limitadas, não vou repetir. Refazam, se não for aprovada a equipe será substituída. Agora saiam!

Giro a cadeira com uma certa violência, levanto indo até uma das janelas de vidro, de onde vejo a pequena rotatória, as nuvens refletidas na fachada do shopping do outro lado da avenida. A esquerda fica um banco e a direita uma variedade de lojas.

A Solis está localizada em uma grande área comercial, ocupando o quarteirão com um edifício horizontal com cinco andares. A fachada de vidro não seria bela sem o logo vermelho. Fundada pelo pai da minha mãe, está no mercado há mais de trinta anos e só há três consegui que ela se tornasse uma das maiores do país.

- Pensei que estivesse ordenado para todos saírem! - falo sem olhar para trás.

- O diretor financeiro saiu, quem ficou foi o amigo. Te conheço há bastante tempo para saber que não está bem.

Viro meu corpo, mas continuo junto a janela, não evito o sorriso ao vê-lo com as pernas sobre a mesa.

- Suas mãos nos bolsos é um sinal de auto controle para não bater em algo ou sair correndo para seu esconderijo.

- Tomás, há alguns dias aquele local deixou de ser meu esconderijo, você mesmo saiu espalhando.

Tiro as mãos dos bolsos e volto a sentar, empurrando seus pés grandes da mesa, ao som de sua gargalhada, é uma das coisas que gosto nele, sua risada é dessas que é tão contagiante que sempre leva quem está ao seu lado a sorrir também.

- Podemos ir lá mais tarde - fala arrumando sua pasta de documentos. - Ainda tenho uma reunião com o setor de vendas.

- Algum problema lá também?

Amor ValiosoWhere stories live. Discover now