SENHOR NADA PERFEITO

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- Filha, chegou mais cedo, algum problema? - pergunta papai ao me ver entrar em casa, desviando sua atenção da tv. - está com fome?

- Um pouco, só horário reduzido nas aulas - respondo jogando minha mochila no chão.

- E por que esse desânimo, lave as mãos, vou te ajudar!

Como sei que não adianta protestar, enquanto ele esquenta um pouco de arroz no microondas, eu ponho carne e batata doce em um prato.

- Fátima de férias, ficou estranho o dia, além de mais trabalho para mim.

- E a que colocaram no lugar dela, como vai dar conta de tudo?

- O ritmo de trabalho mudou, eu tinha os lugares certos para limpar e... -Dou conta que se continuar a lamentar terei que falar minha real situação na Solis. - Pai, não coloque muito suco.

- Eu sei, depois toma mais - ele põe um copo na mesa e depois pega outro para ele e senta na minha frente. - Sua mãe falou que ganhou três livros...

Levanto para pegar na mochila, papai interroga:

- Por que esse homem está lhe ajudando?

Convencer o senhor Rui das intenções do Tomás, não foi fácil, até quando eu também não entendo porque um amigo dele me doou uns livros tão caros - um empresário filantrópico que prefere ficar oculto - No fim, papai aceitou meus argumentos que alguns ricos gostam de fazer isso.

Após um banho, tenho meu ânimo revigorado, dois dias sendo responsável pelo quarto andar, aquele andar suga toda a minha energia, quando pensei que o maior problema seria dona Virgínia, me enganei.

- Vinícius, que não é mais o senhor perfeito, e sim o maior idiota que eu tive o desprazer de conhecer.

Coloco o travesseiro no rosto para abafar meu grito de raiva ao lembrar das palavras dele ao me ver limpando a gaveta. Ele deduziu que eu estava roubando só porque recolho seu lixo - pobre não têm valor.

- Idiota...idiota...

- Quem você está xingando? - pergunta Leandro, colocando o notebook sobre a cama. - Papai mandou trazer. É algum namorado novo?

- Não, apenas um imbecil que se acha o rei da cocada preta. Terminou sua pesquisa?

Ele confirma com a cabeça, folheando o livro que ganhei.

- Foram esses que o pai estava reclamando? Nossa, que desenho legal!

Havia me esquecido desse detalhe, quando Tomás os entregou no final do expediente.

- Neste aqui também, parece um anjo ou é apenas uma garota com asas? - fala e abre os livros sobre a cama.

- Ou as duas coisas - respondo examinando-os. - Parece ser a mesma garota, mas nesse aí, os cabelos estão soltos, neste eles estão mais revoltos.

- Parecem com os de alguém que eu conheço - fala rindo, dou um tapa em seu braço. - E estão mais bonitos, então não são os seus.

- Olha, o respeito, moleque.

- Boba. Fiquei curioso para saber o rosto dela, por que será que desenharam ela de costas? Mas mesmo assim é muito bonito.

Intrigada, examino os livros, eles são novos, tem cheiro de livro recém comprado, embora encontro algumas folhas riscadas. Alguns textos grifados.

- Que estranho! - falo apontando para a folha do livro.

- Acho que entendi, olha irmã, nesse aí a garota vê uma estrela, neste ela quer pegar a estrela e neste ela conseguiu, por isso esse brilho, assim oh!

Amor ValiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora