Amor Valioso

TRAÇOS PERFEITOS

- Vamos finalizar o AMRAP - fala o coach. - Vinícius, cuidado com a mão.

Quarenta minutos depois o meu WOD é encerrado.

- Não consigo te imaginar fazendo outra coisa - Comenta Tomás, sentando-se ao meu lado no chão da box. - Você realmente descobriu algo para fazer.

- O meu PR hoje foi baixo. - respondo tentando regular a respiração.

Ele trabalha na Solis há três anos, contrariando a vontade de minha mãe ele foi contratado. Nunca fui de cultivar amizades, desde a minha adolescência as pessoas se aproximam de mim por algum interesse oculto, com o tempo aprendi a me proteger e usar a ambição delas ao meu favor.

- Quando vai entrar no ringue? - pergunto apontando para suas luvas de boxe. - Sabe que tem que passar por aquelas cordas e enfrentar um oponente.

- O treinador falou que eu preciso de mais alguns exercícios - ele disfarça, olha para os lados. - Quando tiver coragem eu vou, por enquanto, fico batendo no saco, ele não revida.

Ele põe a mão na boca para não ri, mas não consegue se conter e gargalha, deitando no chão. Pego uma de suas luvas e bato nele.

- Dez a zero para o saco, não consigo nem revidar seus ataques, imagine de um oponente de verdade.

Acabo rindo também, talvez seja esse o motivo principal que eu goste dele, ele ver a vida com leveza. E me faz rir.

- E por que ainda vem se tem medo? Eu te falei para fazer crossfit comigo.

- Muito obrigado, mas prefiro continuar brigando com meu saco - Pega as luvas e bate uma na outra. - Ficar pulando em caixas, pegar peso, argolas, eu não quero ninguém controlando meu tempo. - E de repente fica sério. - Desculpe por revelar o que faz, mas Sofia não acreditou quando falei dos meus novos hábitos.

- Sua noiva não tem motivos para desconfiar de você, há tempos não sai comigo para as noitadas, mas da próxima vez não precisa me enquadrar nas suas fotos!

- Eu precisava salvar meu futuro casamento, ela viu que estou realmente tentando aprender a dançar, minhas pernas são duras como madeira.

-Está fazendo isso só para aprender a dançar?

-Não. Estou fazendo por minha Sofia. Ela quer uma dança memorável na nossa recepção, só não sei como, ainda. - ele começa a rir de novo. - Mas consigo imaginar seus gritos todas as vezes em que eu vou pisar nos seus pés.

- Se não aprender o que vai fazer? - O sorriso desaparece, me arrependo. - Um ano é tempo suficiente. Vai conseguir.

- Sua empolgação está no limite pela inauguração da loja, estou muito feliz por ela, seus designer dos tecidos estão fazendo sucesso.

- Onde vai ser a loja?

- Sabe a parte do centro que foi reformada? Não, você não sabe.

- A mulher da limpeza falou - ele junta os olhos, questionando. - A que limpa minha sala e tem manchas escuras no rosto.

- Fátima, esse é o nome dela. Pois bem, Sofia alugou um ponto na área velha e vai abrir um lojão de fábrica.

- É um excelente projeto, talvez eu compareça para conhecer e oferecer algum tipo de seguro.

Ele me chama de idiota, sou eu que sorrio por conseguir segurar a luva que jogou em mim.

- Encontrei sua irmã de novo no shopping - ele muda de assunto. - Não voltou a ser a garota meiga de antes, mas acho que a fase rebelde passou.

- Só espero que ela não caia em outra roubada, que sirva de lição para ficar mais esperta com homens...

- Se não, sua mãe vai se intrometer de novo. - fala alongando as pernas.