O PREÇO DE VIRGÍNIA

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Será que ela não se incomodou com a minha presença? Questiono pegando a champanhe. Não fui convincente ao dançar com Vinícius? Encho uma taça com o líquido. Uma mensagem no celular.

Ela está subindo.

Acomodo no sofá e finjo está relaxada. Na tela de bloqueio do celular, a imagem do quadro de Carina feito pelo pai. Fecho os olhos e esvazio o coração da ansiedade, não posso demonstrar que estou com medo.

A maçaneta da porta avisa que não estou sozinha.

Ela entra com passos lentos, sem a preocupação de não fazer diferença de quem ela está vendo. Guardo o celular na bolsa de mão e verifico a escuta. Meu coração acelera, e dou todos os avisos possíveis para ser fria como o líquido na taça.

Andando com a confiança que muitas vezes tentei imitar, ela passa o olhar pelo camarim, se detém ao chegar na cadeira giratória da penteadeira.

- Você é corajosa ou atrevida? Não sei em qual você se encaixa.

Controlo a vontade de gritar tudo que descobri sobre ela, porém sorrio e mostro a elegância da postura e também a coragem por não baixar a cabeça.

- Alberto é fácil de ser enganado, não ouse usá-lo - ela fala suave, porém vejo apertar a cadeira. - O que pensa que faz aqui?

- Sou acompanhante do Guedes, faço esse papel depois... - ela olha para a minha sandália, uma de sua marca preferida. - Não preciso explicar, você tem essa informação no relatório sobre eu e minha família, enfim sabe até o número da minha carteira de motorista.

Um sorriso brota no canto de seus lábios. Obtive aula com Alberto - a matéria Virgínia - ela não gosta de conversar com pessoas lentas, aprecia uma conversa onde sua atenção é instigada. E que eu não perdesse tempo pedindo clemência, como eu já sabia, Virgínia se alimenta do meu medo e das minhas fraquezas.

- Talvez eu seja louca - falo segurando a taça e tendo cuidado com a bolsa no meu colo. - Desobedeci sua ordem para ficar longe de Vinícius e além de Brenda, Alberto também é meu amigo, as pessoas precisam saber quem é a mãe da sua neta.

- Pensei que não tinha dúvida do que sou capaz - ela caminha para frente do espelho clássico e olha para o meu reflexo nele. - Não foi pouco o que aconteceu com sua família.

Bato o dedo na coxa, preciso que ela fale, aos poucos atiçarei sua vaidade, sem ela perceber para qual fim. Posiciono a bolsa ao meu lado no sofá repouso a taça numa pequena mesa de canto.

- Admiro sua capacidade de persuadir as pessoas - falo erguendo do sofá e me posicionando atrás dela, de modo que me veja através do espelho. - Você realmente pagaria um milhão como está naquele contrato para me ver longe de Vinícius?

- Deixe-me reformular a pergunta. - ela se aproxima de mim no olhar o desprezo que eu conheço, mas que hoje não me intimida. - Qual é o objetivo dessa conversa? Apenas volte para a favela de onde saiu e desapareça.

Ignorando a irritação perceptível na voz de Virgínia, respondo:

- Eu usei esse evento para lhe encontrar - Dou uma pausa, ela ergue uma sobrancelha. Mordeu a isca. - Tenho uma proposta para fazer.

- Você não tem nada que possa me interessar. - ela ironiza, fica rente a mim, sinto seu perfume, caro, mas me enoja. - Seu atrevimento de hoje vai custar caro.

Não posso perder essa chance.

- Com certeza não vai ser um milhão - Ironizo e me afasto, encosto na penteadeira. - Tampouco a carreira de mamãe, a loja do papai ou as redes sociais do Leandro não podem mais serem usadas para me atingir.

Amor ValiosoWhere stories live. Discover now