A DESCONHECIDA

135 27 5
                                    

— Não fique assim, papai está bem - Falo para Brenda a mesa na minha frente. — Mais alguns dias, ele terá alta.

Estamos em um restaurante, após sairmos do hospital, nosso pai fez a cirurgia. Sem pressa, ela corta o frango, mas não o leva a boca, revira a comida e lamenta:

— Mamãe bem que podia visitá-lo — Abandona o talher e toma água. — Eu sei que ele está bem, mas está sozinho, isso parte o meu coração.

— UTI, ninguém pode ficar com ele. Coma, você ouviu ele reclamar que a caçula dele está magra — revira os olhos e põe um pedaço de frango na boca. — Podemos passar uma noite com ele na mansão. O que acha?

Pergunto na tentativa de animá-la, quando eu mesmo estou desanimado por ver nosso pai ligado a vários aparelhos. Tem sido nossa rotina ir ao hospital todos os dias, porém Ana Virgínia não o visitou.

— Combinado — responde e volta a degustar a comida. — Também ouvi ele falar que deseja conhecer os netos antes dos oitenta anos.

— Fique à vontade. Se bem que do jeito que leva a vida amorosa, como se chamava o último?

Ela gargalha e dá de ombros.

— Por enquanto, estou acumulando experiência — Ouvimos choro de uma criança. — Não estou preparada para isso. Acho que existe uma maldição na nossa família, não há outra explicação.

— Para ficarmos doentes?

— Não somos felizes no amor - Descanso o talher e relaxo, encostando na cadeira. Ela continua quando vê que chamou minha atenção. — Nossos pais estão casados há anos e não se amam. Papai diz que amou uma vez, foi breve, mas único, mamãe é uma mulher linda, inteligente, enfim, muitas qualidades, podia ter o homem que quisesse, mas escolheu viver sem amor.

Girando a taça de água sobre a mesa, dar um sorriso sem mostrar os dentes e continua:

— Eu não consigo levar um relacionamento mais que um ano, você...

— Estou namorando e feliz. Não tenho do que reclamar da vida — ela estreita os olhos e faz pressão mais do que é necessário para cortar o alimento. — Está enganada, mamãe ama nosso pai, todos os dias ela me liga para saber dele.

Mostro algumas mensagens no meu celular, ela balança a cabeça, mastiga com pressa e leva comida de novo à boca.

— Do jeito dela, mas ama. — Justifico.

— Não entendo essa forma de amar, mas não vamos discutir sobre isso de novo.

Ficamos em silêncio, a mesa do lado sendo limpa por um garçom, uma mulher passa ao lado, seu perfume forte, me faz tossir, Brenda pede água, após beber, aviso que vou ao banheiro. Ao voltar ela aponta para o meu celular e fala que Allegra ligou.

— Pretende casar mesmo com ela? Pensei que fosse devaneios da mamãe e exibição da sua namorada!

—Existe esta possibilidade.

— Por que escolher o mesmo destino dos nossos pais? Você não a ama. Ela é bonita, rica, qualidade principal para a mamãe, mas não tem nada a ver com você.

Volto a comer e pergunto:

—Pensei que gostasse dela. Esqueceu que ela emprestou o apartamento para você?

— Por seis meses, mas saí logo que descobri aquelas câmeras, e não diga que elas estavam desligadas, não acredito..

— Cansei de você falar que eu devia arrumar uma namorada, agora reclama.

— Uma que fosse menos exibida, que não posta tudo nas redes sociais, vive de festa em festa, é mimada...

— Igual a você!

Amor ValiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora