Minhas Feridas Regeneram, Mas Nunca Cicatrizam.

54 7 4
                                    




Enquanto eu me encontrava na sala de estar, Luz entrou repentinamente, seus olhos ainda carregados de intensidade. Luz, com a expressão ansiosa, interrompeu o silêncio da manhã com suas palavras.

— Realmente acha que não daria para ouvir? As paredes de casa são finas! — gritou, assim que me viu sozinha naquela manhã.

Eu me virei, ainda sonolenta, os olhos semicerrados contra a invasão da luz matinal. Luz continuou, sem dar tempo para eu me recuperar do despertar abrupto.

— Pela barulheira de ontem à noite, realmente pensei que finalmente tinha acontecido algo entre a senhora e o senhor Zeke. Mas, visto a cara emburrada que ele estava hoje cedo antes de sair, dá para supor que a senhora fez alguma coisa muito errada.

A notícia pegou-me de surpresa, e uma onda de perplexidade se espalhou pelo meu rosto. Enquanto tentava processar as palavras de Luz, pude sentir o peso da especulação na atmosfera.

— Espera, o que você está insinuando? Zeke e eu não... apenas tivemos uma divertida guerra de travesseiros, nada além disso.

Luz manteve seu olhar perspicaz, parecendo analisar cada palavra que eu pronunciava. O silêncio pairava no ar por um momento, antes de ela finalmente desistir de sua postura defensiva.

— Uma guerra de travesseiros? Sério? — Tentei segurar um sorriso diante da reação de Luz. Luz cruzou os braços, um olhar desafiador misturado com diversão. — Os senhores são tão infantis, por acaso não tiveram infância?

Neguei com a cabeça, relutante em entrar em detalhes, mas a verdade era inescapável. Zeke e eu fomos obrigados a amadurecer muito rápido, cada um carregando um fardo pesado.

— Não é que não tenhamos tido infância. Acontece que a vida nos forçou a crescer mais rápido do que o normal. Zeke, por causa dos pais restauracionistas, e eu, por conta do assassinato da minha família.

A expressão de Luz mudou, passando da leveza para uma compreensão mais profunda. Seus olhos refletiam uma mistura de simpatia e surpresa.

— Desculpe, eu não sabia sobre... bem, sobre nada disso.

Balancei a cabeça, tentando dissipar a gravidade do momento. A empregada, percebendo a tensão na sala, ficou visivelmente constrangida e deu uma desculpa qualquer para poder sair da casa naquele momento.

Com a saída de Luz e a sala agora silenciosa, peguei Rory no colo. Ela sempre foi fácil de lidar, uma criança tranquila que não se entregava a choros ou manhas. Desde que estivesse com sua pelúcia horrorosa de macaco, parecia que o mundo ao seu redor desaparecia.

Aconcheguei-a no meu colo, sentindo a leveza de seu peso. Seus olhinhos curiosos observavam o ambiente, mas assim que percebeu que estava nos meus braços, um sorriso adorável se formou em seu rosto.

Por tanto tempo, me senti só. Antes que essa pequena chegasse à minha vida, eu me sentia presa nessa escuridão. A solidão era como uma sombra constante, pairando sobre cada passo que eu dava. As paredes pareciam mais grossas, e o vazio ao meu redor ecoava.

Então, ela chegou. Uma pequena fonte de luz em meio à escuridão que parecia interminável. Com olhos curiosos e uma inocência que me envolvia, trouxe consigo uma mudança tão profunda que mal podia acreditar.

Não vou me enganar, a verdade é que eu nem a queria. Quem me fez repensar meus conceitos foi o Zeke. Mesmo sem ver, era guiada pelas suas mãos. Eu vivia presa na ilha, e ele me libertou daquelas muralhas. Depois dele, nada mais pode me segurar.

As pessoas olham para nós e acham que combinamos, mas ninguém o conheceu do jeito que eu conhecia. Eu o via como um monstro quando nos conhecemos. Mas com o tempo, minha perspectiva mudou completamente, e eu fico contente, mesmo que sejamos diferentes. Talvez seja por isso que tudo é tão bom entre nós.

Freedom Wings - Levi AckermanWhere stories live. Discover now