Aurora

60 8 2
                                    



A pequena casa no campo estava mergulhada na serenidade do final da tarde. Luz repousava preguiçosamente na varanda, observando o céu tingido de tons quentes enquanto eu lia as últimas cartas de Zeke. A brisa suave acariciava os campos ao redor, e o silêncio era rompido apenas pelo som suave da natureza.

O bebê, que crescia dentro de mim, ocasionalmente fazia seus movimentos perceptíveis, como se quisesse participar da troca de correspondências. Era reconfortante receber notícias de Zeke.

À medida que os meses avançavam, a criança crescia, e com isso, meu corpo também se transformava. Em nossas trocas de correspondência, descrevia os momentos em que sentia os chutes do bebê durante a madrugada, as mudanças constantes de humor e todos os preparativos, desde as roupinhas até a decoração do quarto, que eu providenciava para a chegada do meu filho.

Em toda a minha vida, nunca imaginei estar numa situação como essa. Assim como Zeke, acreditava fielmente no plano de eutanásia. Vez ou outra, recordo-me de uma conversa que tivemos, na qual eu afirmava que só entenderia os motivos do seu próprio pai quando tivesse o seu próprio filho. Ambos insistiam na ideia de que nunca teríamos descendentes. Claro que nenhum de nós imaginava o que o destino estava reservando.

Durante meses, Luz e eu continuamos com nossas viagens para explorar novos locais que, em pouco tempo , seriam destruídos pelo estrondo. O medo do desconhecido e a incerteza do futuro me envolviam enquanto considerava essa decisão.

A guerra iminente e o destino trágico que aguardava a humanidade eram sombrios demais para serem ignorados. Pesar prós e contras, tomar uma decisão difícil, sabendo que cada escolha poderia ter consequências irreversíveis, era o desafio que se apresentava diante de mim.

O dia fatídico finalmente chegou. Zeke estava do outro lado do continente, e eu sabia mais ou menos a localização de onde ele estava. No entanto, em um momento de desespero, a ideia de me juntar a ele começou a pairar em minha mente.

— Luz, arrume as malas. Estamos partindo. Vamos pegar o próximo trem. — ordenei, firme em minha decisão.

— Mas, minha senhora, devo alertá-la. Está próxima do tempo de ganhar, não será bom para sua saúde, nem para a do bebê. É mais prudente ficarmos em casa. — Luz expressou sua preocupação, uma voz de razão diante da minha determinação.

— Isso é bobagem! Vamos sair, vamos espairecer. Estou precisando viajar, é a melhor coisa que faremos agora. Além disso, se essa criança nascer, independentemente de ser aqui em Liberio ou em qualquer outra parte do continente, não haverá problema algum. Afinal de contas, eu sou casada com o chefe de guerra de Marley.

— Acredito que não seja um problema político, e sim da sua própria saúde. Afinal de contas, sua gestação inteira foi de risco. Perdoe-me por dizer, mas você quase morreu não apenas uma vez. Aliás, sua saúde só se recuperou graças ao senhor Zeke. — Luz argumentou, expressando sua preocupação com uma dose de franqueza.

— Deixe disso, Luz, é uma ordem. Arrume as malas, iremos partir imediatamente.

A simples empregada, apesar da grande amizade que tínhamos, não conseguia controlar minha impulsividade. E, como havia pedido, Luz foi arrumar as malas.

Luz ficou surpresa ao descobrir que o ponto de parada que havia planejado para essa viagem era exatamente onde estava sendo concentrada a batalha principal da guerra, que já durava quatro anos entre Marley e os países do Oriente Médio.

— Senhora, desculpe a intromissão, mas a senhora planejou parar justamente no local da batalha? — indagou Luz, demonstrando surpresa, enquanto organizava as malas. — Por acaso, a senhora não veio para cá porque estava com saudade do senhor Zeke?

Freedom Wings - Levi AckermanWhere stories live. Discover now