Enquanto Isso Em Paradis

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Narrador em 3° pessoa

Nas profundezas da fortaleza de Paradis, onde as paredes de pedra pareciam resguardar segredos e sombras dançavam nos cantos, Levi enfrentava noites insones. O quarto, outrora permeado por risadas e murmúrios, agora era um sepulcro silencioso, com a cama vazia ecoando dolorosamente o passado.

O leito de casal, antes compartilhado com S/N, tornou-se um lembrete implacável de sua ausência. Incapaz de encontrar paz entre os lençóis frios e a persistente solidão, Levi abandonava a cama. Agora, uma poltrona desgastada no canto do quarto era seu refúgio, onde cochilos breves tentavam aliviar a fadiga, mas raramente traziam paz.

Frequentemente, as luzes trêmulas do abajur revelavam Levi imerso em papéis e relatórios, suas olheiras profundas testemunhando noites dedicadas a um trabalho incansável. O escritório tornou-se não apenas um local de dever, mas também um esconderijo onde o sono o surpreendia inesperadamente. A secretária transformava-se em um improvável leito, e os documentos, almofadas improvisadas.

Contudo, mesmo nos raros momentos de descanso forçado, a solidão o perseguia. Os ecos das risadas de S/N e sua presença inegável assombravam seus sonhos, deixando Levi à mercê de lembranças que o tempo teimava em não desvanecer. O peso da ausência impregnava cada sombra da fortaleza, transformando o que antes fora um lar em um labirinto de recordações dolorosas.

Cada madrugada se desdobrava para Levi como uma repetição dolorosa, arrancando-o do sono com violência. O quarto, mergulhado na escuridão, era palco de um ritual de agonia, enquanto o corpo de Levi se contorcia sob lençóis suados, e seu coração martelava no peito em descompasso.

Na ânsia por alívio, seus dedos automaticamente encontravam a pequena caixa que guardava as alianças. O metal frio contra sua pele, símbolo de um elo desfeito, tornava-se um amparo frágil em meio às noites turbulentas e solitárias. A caixa, agora mais do que um simples receptáculo de objetos, transformava-se em um talismã contra a tormenta emocional.

O coração de Levi, palpitante e ferido, buscava consolo na pressão firme da caixa contra seu peito. Era como se, por um breve instante, o peso da perda diminuísse ao segurar aquele pequeno artefato que testemunhara promessas quebradas.

A fortaleza de Paradis, habitualmente imponente e silenciosa, ecoava agora com os suspiros de um homem atormentado. O lamento das noites insones reverberava entre as paredes frias, enquanto Levi se agarrava à única lembrança tangível do que uma vez fora. E assim, na penumbra de sua própria angústia, ele buscava algum consolo na pequena caixa que continha não apenas alianças, mas memórias de um passado que insistia em assombrá-lo.

Nas madrugadas silenciosas, quando até os próprios corredores pareciam render-se ao sono, Levi encontrava seu caminho até o salão de quadros. O quartel, normalmente pulsante com a energia da vida militar, agora assumia uma calma perturbadora, como se respeitasse o sofrimento silencioso do soldado atormentado.

O salão, adornado com a história visual da tropa e de momentos significativos, abrigava um retrato singular que monopolizava a atenção de Levi. O quadro, uma imagem congelada no tempo da pessoa que ele amara, transformara-se em um santuário pessoal. Cada passo na direção da pintura era um mergulho mais profundo em sua própria angústia.

Ali, diante da representação estática de S/N, Levi se perdia em horas de contemplação. Os detalhes da expressão, os olhos que outrora encontravam os seus com ternura, agora eram janelas para um passado irrecuperável. A agonia se intensificava à medida que sua mente se afundava nos recantos da memória, desencadeando uma tempestade de emoções indomáveis.

O silêncio do salão ecoava com os suspiros contidos de Levi, uma sinfonia melancólica que apenas as paredes desgastadas podiam ouvir. Cada visita ao retrato de S/N era uma peregrinação à dor, uma busca desesperada por algum consolo nas linhas e cores que compunham o rosto da amada. No salão de quadros, onde a história de Paradis se entrelaçava com as histórias individuais, Levi encontrava-se sozinho, imerso em uma narrativa pessoal de amor perdido.

Freedom Wings - Levi AckermanWhere stories live. Discover now