Sol Da Noite

56 5 2
                                    


Adentramos a casa dos avós de Zeke em meio a risos e calor humano. As paredes repletas de memórias, fotografias envelhecidas e cheiro de comida caseira davam um toque acolhedor ao ambiente. O som das conversas animadas e o tilintar dos talheres completavam a harmonia que pairava no ar.

A tarde era agradável, mas havia uma sombra sutil pairando sobre mim. Encontrar Eren trouxe à tona uma onda de desconforto que eu lutava para ignorar. Os outros pareciam estar se divertindo, mergulhados na atmosfera calorosa, enquanto eu me debatia com pensamentos sombrios.

Observava as expressões alegres ao meu redor, enquanto a inquietude crescia dentro de mim. Aquele encontro com Eren não foi simplesmente um reencontro, foi um lembrete cruel de que o estrondo iminente da terra se aproximava rapidamente. O mundo que conhecemos estava prestes a mudar, e a normalidade da vida cotidiana estava destinada a ser perturbada.

Enquanto todos riam e compartilhavam histórias, eu me via perdido em pensamentos sombrios sobre o futuro incerto que se desenhava diante de nós. A vida pacata que eu apreciava estava com os dias contados, e a realidade do desconhecido começava a se infiltrar em minha mente.

Ao escutar a voz familiar de Zeke, me viro abruptamente, percebendo que minha expressão sombria não passou despercebida. Estava escondido em um velho quarto, cuja atmosfera carregava as lembranças da infância do loiro.

— Você está com essa cara desde cedo — comenta Zeke, observando-me atentamente. Seus olhos perscrutadores revelam uma mistura de curiosidade e preocupação, como se tentasse decifrar o que se passava em minha mente.

Respiro fundo, tentando dissipar a nuvem de pensamentos sombrios que pairava sobre mim. O quarto, com seus móveis antigos e brinquedos esquecidos, parecia um refúgio temporário do tumulto lá fora. No entanto, a presença de Zeke trazia consigo uma sensação de exposição, como se minha máscara de normalidade estivesse prestes a ser retirada.

— Eu acho que vi seu irmão entre os soldados feridos... — murmuro, minha voz sussurrando no quarto repleto de memórias. Zeke se aproxima, seus olhos capturando a gravidade da situação, mas sua expressão permanece compreensiva.

Ele se senta ao meu lado na pequena cama infantil, um gesto que transcende a familiaridade do ambiente. A madeira rangendo sob o peso de nossas preocupações compartilhadas. Seu olhar encontra o meu, esperando que eu continue.

— Tá preocupada? — ele pergunta, as palavras carregadas de empatia. Seus olhos azuis refletem uma calma que contrasta com a tempestade de emoções dentro de mim.

Assinto lentamente, incapaz de manter o disfarce.

— Eu gosto da vida que tenho aqui. Encontrar o Eren significa que logo terei que voltar para a ilha... - murmuro, meus olhos vagando pelas linhas intricadas das minhas mãos. No entanto, há um ponto fixo, uma esfera dourada que brilha no meu dedo anelar da mão esquerda, uma presença constante que não posso ignorar. - ... ...também significa que o nosso casamento de mentirinha vai chegar ao fim, e até mesmo essa sensação falsa de família.

As palavras escapam com um peso evidente, carregando consigo a tristeza da iminente despedida. O quarto silencioso parece amplificar a confissão, transformando-o em um lamento íntimo.

Senti meus olhos lacrimejando, a emoção se manifestando de forma tangível. Mantive a luta contra as lágrimas, restringindo-as de escapar silenciosamente. Deitei a cabeça no ombro reconfortante de Zeke e respirei fundo, buscando acalmar as tempestades internas que se agitavam.

Seu abraço de lado era um refúgio, uma âncora que me impedia de ser levado pela correnteza das minhas próprias incertezas. A respiração tranquila de Zeke reverberava uma calma que começava a se infiltrar em mim, dissipando as nuvens escuras que pairavam sobre minha mente.

Freedom Wings - Levi AckermanWhere stories live. Discover now