33.Dinner and...love?

58.6K 3.8K 18.5K
                                    

A chaleira apitou indicando que o chá que irradiava o aroma de hortelã pela casa estava pronto. Camila serviu duas canecas, as colocou numa bandeja de plástico e lançou um último olhar para Sofi que estava esparramada no sofá assistindo a reprise de Friends.  A latina carregou a bandeja até o segundo andar na primeira porta a esquerda do corredor e bateu duas vezes antes de empurrar a porta entreaberta com o corpo, revelando um quarto mal iluminado pela janela fechada e o brilho da TV ligada. Sinu Cabello se encontrava sentada na enorme cama de casal com os olhos fixos na TV, revendo, que pelas contas de Camila era a 74° vez, alguns vídeos caseiros. Esse tinha se tornado seu novo hábito desde que Alejandro faleceu, a forma que a mulher encontrou de sempre manter seu marido por perto, todos os dias. Sua depressão tinha melhorado muito desde que Camila deixara o emprego de garçonete para se torna professora e pode pagar o tratamento de mãe, os remédios e sessões tinham feito Sinu voltar a conversar e compartilhar seus sentimentos. Ela ainda não saía do quarto, mas gostava de passar horas conversando com suas filhas e Sofia vinha sendo seu porto seguro cozinhando, limpando e cuidando da mãe com apenas 11 anos.

- Eu trouxe chá de hortelã, seu preferido. – disse Camila sorrindo para a mãe que retribuiu. A latina deixou a bandeja em cima da cama e subiu do outro lado ajeitando-se contra a cabeceira e entregando uma caneca à mulher. – Como está hoje?

Sinu aceitando a caneca e encarou o chá por longos segundos e quando respondeu, seus olhos estavam perdidos na TV.

- Eu não tive pesadelos essa noite também... Talvez isso seja um avanço.

Os pesadelos de que ela falava se tratava dos sonhos sobre Alejandro que tiravam seu sono e a deixava extremamente nervosa. O psicólogo disse se tratar do fato da mulher não deixar Alejandro ir em memória, sonhar com ele se tornava uma forma de tortura para si mesma.

- Eu fico feliz por isso! – sorriu amplamente e bebericou seu chá, queimando a língua em seguida e praguejando-se por ser uma droga na cozinha. – Foi só trocar o calmante e a senhora voltou a dormir tranquilamente, aquele outro era fraco demais.

A mulher concordou com um aceno de cabeça e continuou encarando a TV. Ela não fazia por mal, era uma desatenção que tinha adquirido com a depressão e Sofia e Camila tinham consciência de que os diálogos com a mãe seriam monólogos até um avanço.

- Sofia ganhou o concurso de poesia ontem, ela deve ter contado isso. – disse casualmente e seguiu os olhos de Sinu à TV. – Eu sempre soube que ela tinha talento com as palavras. Lembra do jardim de infância? Ela sempre fazia as apresentações primeiro por ser a mais inteligente. – riu com a lembrança de acompanhar os pais nas apresentações da irmã. Logo seu sorriso morreu e arrependeu-se de tocar no assunto, mas quando voltou seus olhos para a mãe, Sinu parecia inerte ao mundo ao seu redor.

Suspirou. Sentia falta das conversas jogadas fora com a mãe, sentia mais ainda falta dos momentos em família que eram sempre importantes em certa época de suas vidas. Pensar nessa época trouxe as lembranças de Lauren e seu encontro no dia anterior na sala de aula. Sentiu um frio no estômago ao lembrar-se de que Ethan era filho de Lauren. Filho. O garotinho de 4 anos tinha sido gerado pela pessoa que ela mais amou em seus 25 anos de vida.

- Eu encontrei Lauren. – soltou como se contasse sobre seu dia.

Sinu virou o rosto para a filha e a encarou por um tempo.

- Lauren? – ela perguntou parecendo confusa, mas a verdade é que ela sabia muito bem de quem se tratava.

- Sim, minha ex namorada. – dizer isso soava tão estranho. Camila mal falou de Lauren desde que fora abandonada, então se privou de usar esse termo quando se tratava da morena. – Ela é mãe de um dos meus alunos, louco, certo? – Sinu não esboçou nenhuma emoção, então ela continuou. – Ela está noiva e tem um filho. – disse como se mal acreditasse nas próprias palavras. – Ontem o noivo dela, Logan, me chamou para um jantar hoje e eu aceitei. Eu estraguei tudo, não foi? – franziu o cenho e deixou a caneca na bandeja, assim como sua mãe. – Todo meu esforço para me manter afastada dela esses anos e agora eu simplesmente estrago tudo entrando em sua vida outra vez.

The Red BowOnde as histórias ganham vida. Descobre agora