27.Sacrifice

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27 de Janeiro de 2015. Primeiro ano da faculdade.

Pov Camila.

Quando minha professora de literatura da oitava série indicou a tragédia Romeu e Julieta como seminário, eu me tranquei no quarto por semanas quebrando a cabeça para encontrar uma forma coerente e simples de especificar uma obra clássica tão conhecida e complexa. Todos esperavam que eu chegasse e dissesse algo como: "As famílias Capuleto e Montequio viviam em conflito e nesse meio nasceu o amor de Romeu e Julieta...". Não, seria fácil demais contar pela perspectiva popular do romance, então decidi revirar o livro e quebrar ainda mais a cabeça procurando pela peça chave do meu seminário.

No dia da apresentação, eu iniciei meu seminário com a seguinte citação: "Essas alegrias violentas, têm fins violentos. Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora que num beijo se consomem." Lembro-me exatamente da reação dos meus colegas de classe e da minha professora diante estas palavras; a maioria dos alunos me olhou surpresos, provavelmente se perguntando se essa citação fazia parte do romance, sei disso porque os ouvi comentando certo dia que não precisavam ler o livro para contar a história.

Já a minha professora sorriu de lado, e eu soube que estava dando a ela o que ela queria.

Então eu expliquei o que Shakespeare quis dizer com tal citação. É quase como a lei de Newton, se há uma alegria violenta e exagerada; seu fim não será outro senão o fim violento e exagerado. O fogo percorre a pólvora rapidamente com pressa e desespero, mas quando acontece o contato, ocorre a explosão. Foi o que aconteceu com Romeu e Julieta quando julgaram viver perfeitamente em sua própria bolha antes de tudo desmoronar, e, agora, sentada contra o tronco de uma árvore observando o lago calmo, me dou conta de que não muito diferente da ficção, minha vida estava trilhando o mesmo caminho de um romance trágico escrito por Shakespeare.

Eu deveria ter desconfiado quando meu pai ganhou aumento no trabalho, quando meu nome começou a ser reconhecido em Juilliard, e quando Lauren apareceu em minha vida. Quem imaginaria? Eu estava vivendo o romance dos meus sonhos, com a pessoa mais linda que julguei um dia não existir; tudo era perfeito com Lauren, ela sempre fez questão de cuidar para que tudo fosse perfeito, para que meu corpo vibrasse em felicidade plena pelo meu primeiro e, desejo desesperadamente que seja assim, meu único amor. Eu estava plenamente feliz até a doença do meu pai se manifestar outra vez e eu ter que assistir tudo o que construí durante os anos, ser jogado no lixo. Meus dias em Juilliard estavam contados, uma decisão que meus pais ainda não tinham conhecimento, mas que ajudaria no sustento de nossa família até segunda mão. Meu pai recebera alta do hospital ontem à tarde, ele parece bem, não é como se um tumor sugasse sua vida dia após dia como um demônio sugador de alma. Hoje de manhã, no café, minha mãe contou que papai vai pedir empréstimo ao dono da empresa e explicar nossa situação; não é algo certo ainda, mas ele tem muito dinheiro e sempre ajudou os funcionários que precisaram.

Então eu me permiti ter um fio de esperança. Aceitar um empréstimo de uma pessoa desconhecida me faria sentir menos mal, eu não suportaria a humilhação de receber dinheiro de Lauren ou Normani, mesmo sabendo que suas intenções são totalmente bondosas. Sei que elas não aceitariam o dinheiro de volta quando eu o tivesse, e esse era um dos motivos que me fazia recusar a ajuda oferecida por elas.

Fechei os olhos encostando a cabeça na árvore, respirei o ar puro daquele lugar me deixando envolver pelo vento fresco que abraçava as folhagens das árvores liberando um cheiro agradável de natureza. O rancho abandonado havia se tornado meu refúgio preferido por tanto motivos que só me faziam sentir em casa cada vez mais que o visitava. O lago abrigava alguns peixes que nadavam livremente em cardumes pelas águas cristalinas, eu adorava assisti-los o dia todo se me fosse permitido.

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