(74) - Ilha Sagrada

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"O silêncio de Sý'Einna ensina que devemos abraçar a finitude.

A vergonha não deve existir ante o final. Em verdade, é motivo de orgulho completar o ciclo natural e entregar à Aura a nossa trajetória.

Por mais apaixonante ou condenável que a realidade crua seja, a vida necessita da morte, tal o predador de sua caça. A renovação vem da queda, pois é a regra da natureza, é a força e a energia que remodelam a ordem. Ciclo este que nos torna perenes nômades a procura do entendimento dos sentimentos. Então encontramos acalanto nas artes, transmitindo a essência de nossos corpos finitos às criações perenes de nossas mãos e mentes.

O que seriam dos povos caso não testemunhássemos as passagens que nos antecederam? Quanto mais velho é o mundo, quanto mais cicatrizes esquecidas há, mais primorosos são os que nele habitam. A devoção das divindades é uma das faces da totalidade. A morte, por doença, guerra ou velhice, levará a mensagem em nossos espíritos de como fora a vida em terra, para renovar o ciclo das entidades vindouras.

A eternidade, no fim das coisas, só cabe a Nhãmrú."

- Wanäe, guardiã do Templo de Ktajh

Portadora da espada de Êllyra


AVES SIBILAVAM acima das copas. Assobios distintos eram notados em alturas diferentes. O desarranjo sonoro era incomodo. Deixavam o silêncio do Oceano Endra para trás.

— Os pássaros daqui são assim? Não me parecem normais.

Ela continuou firme com o rosto para frente e o ritmo acelerado do trotar. A mão segurava com rigidez na brida do poake desértico.

— Não — Ákera respondera a Thâmyr que a ladeava na cavalgada. A tensão era notável em seu cenho. Trazia a lâmina sacada ao lado da sela. Ela e qualquer outro dos cinquenta kaskres que a seguida mata adentro estavam preparados para entrar em combate assim que precisassem. — Estão agitadas demais. Algo está errado. — Estreitava o olhar e varria a aura ao redor com dificuldade devido a velocidade com que se moviam, e a concentração na montaria e os nos outros sentidos.

Aqueles cavaleiros nunca viram árvores do tamanho das de Á'Glah, especialmente da Ilha Maior. A floresta exuberante de cores vibrantes e ar opressivamente úmido se fazia oposta ao cenário de origem deles, sendo o calor intenso a única semelhança. Não só os arvoredos de dúzias de metros, mas também os animais do mar, rio, terra e céus eram grandiosos. O tom verde e azul impregnava e embelecia até onde observavam. A beleza, contudo, disfarçava as ameaças naturais, pois havia os que utilizavam dela para se acobertar e caçar.

Thâmyr refletira como o deserto míddico apequenava pela vastidão vazia e a floresta de Á'Glah apequenava por uma vastidão densa. Ambos eram terrenos que moldavam guerreiros naturalmente enrijecidos e resistentes às intempéries de um mundo hostil.

— Sinto como se estivéssemos sendo seguidos — o grão-mestre falou baixo, para que só Ákera e Adúry o ouvisse. Havia certamente muitos olhos pequeninos espalhados pelas árvores, curiosos com a presença da cavalaria, mas eram os olhares sapientes que pressentia.

— É provável. — A almirante foi sucinta. — Preparem as armas para qualquer atacante — enfatizou e Thâmyr traduzira em k'ammuriano para seus cavaleiros menos familiarizados com o kandhú.

A trilha era uma das que levava para Aylsék, a Tribo da Folha, o povoado das guerreiras nativas de Á'Glah. Estava longe de ser uma estrada urbana, porém tinha sua via desbravada, facilitando consideravelmente a locomoção de montarias não adaptadas dentro da floresta espessa.

Quinta Lua (Livro Completo)Where stories live. Discover now