(79) - Quinta Lua

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"Vieste do gélido berço das montanhas d'onde jaz os luares venerados

Do saudoso ventre tribal das vestes ornadas ao campo regado pelo conflito

Foste maculada no seio da pureza ao adentrar nos bosques áureos

A sombra de passadas Eras recaiu sobre ti e enlaçou-se em teu trilhar


Das guerreiras filhas da Grandiosa, que lhe seguiram para as terras sem retorno

Dos cavaleiros errantes e dispersos, que se uniram para pelejar sob tua Palavra

Das naus e armadas, que navegaram por entre ondas tempestuosas em teu Nome

Dos palácios às fogueiras, que hão de cantar em coro tuas lendas e proezas


Dama das muitas luzes, acolhedora do sofrimento, Rainha dos Mortos

A guerra que não podia tardar, por fim, viera e nos dera esperança de glória

Lembrem das canções de conquista, de vitória e de regozijo inspirados por Ela

Pois Yîarien demonstrou as faces da beleza e da tristeza em sua plenitude"

- Por Ákera, a Libertadora


YÎARIEN PASSOU aquela noite conversando com eles, apenas ouvindo que tinham para lhe contar. Conheceu seus nomes e ouviu suas histórias. Era um séquito minguado, mas seus escassos membros teriam um objetivo. Os trilhares que lhes trouxeram eram raízes aleatórias que culminaram naquele caule. Fizera ela então suas anotações no livro com saudosismo tentando não se ater ainda mais às sensações desses escritos. Por mais que tivesse convicção de que o texto se destruiria, precisava aliviar-se em palavras transcritas.

Decidida a retomar a jornada antes do amanhecer, convocou a eles. Sem discursos, sem abrandamento de seus espíritos, ela somente lhes indicou o caminho a Leste para onde marchariam. As fileiras organizaram-se para proteger os flancos, tendo a herdeira ao centro.

— Meu último pedido é que carregues este fardo. — Yîarien estendeu sua bolsa com os escritos para Wanäe. — É um peso que não poderei carregar. Meu corpo está muito cansado. Apenas trarei comigo o cajado e a pedra.

Para a guardiã, a bolsa representava quase nenhum peso a mais sobre sua armadura, o que lhe fizera entender o estado da lunno. Descobriria ela, porém, que o fardo real estava nas páginas.

A relíquia tinha sido removida da lamparina que a abrigava, também para pesar menos, e se alojava agora no punho da herdeira que não conseguia se fechar completamente em volta do objeto.

— Yîarien? — Wanäe virou-se para ela ao vê-la ainda parada enquanto o séquito já se movia pela mata.

Não perguntaria se ela estava bem, porque obviamente não estava. A lunno podia andar, era evidente, mesmo que usando o cajado eventualmente para apoiar-se.

A resposta fora a mudança em seu rosto, como um leve alívio. E seguida, o ar que rodeava se preencheu. A floresta tornou-se densa com a expansão da presença de Yîarien. Sua aura não estava mais velada. Todos da Ilha Maior poderia senti-la. Tornando-se assim um chamariz e um farol das atenções.

— Rumemos ao centro das hostes inimigas — e a lunno pôs-se a andar.

****

O AMANHECER banhava o mar ao Oeste. As praias brancas da Ilha Maior e as águas translúcidas que lhe envolviam não podiam ocultar a mancha que lhe cobria. Cinzas e negras, das velas ao casco, centenas de naus antiquíssimas e preservadas como as rochas esquecidas sob o mar se aproximavam.

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