(47) - Celebrai

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"Louvai Yîarien, Dama da Noite Perene,

Venerai Yîarien, Portadora dos Segredos Celestiais e Imemoriais,

Celebrai Yîarien, Guardiã dos Extintos,

Comemorai Yîarien, Senhora das Luas e das Luzes!"

- Desconhecido


O ANOITECER iniciava-se e os mais de duzentos barcos de diversos portes formavam uma força assustadora e orgulhosa no imenso golfo aberto de Telä. Os mastros recolhidos davam lugar aos remos que conduziam os belos veículos marinhos para docas e outros embarcadouros. Não havia espaço para que mais da metade atracasse simultaneamente, fazendo com que o horizonte se cobrisse com as três armadas conjuntas. Aos habitantes, uma visão épica e prenúncio da chegada daquela envolta de tantos boatos.

Os nórdicos, ou os yl'hinym — se assim podiam ser chamados os que em Á'Glah habitavam, pois se tratava de outro continente ao norte de Gállen'thir —, tinham tradições marítimas enraizadas. Muitos desejavam velejar como tripulantes de uma esquadra, treinando em seu período de maturidade inteiro para tal, e muitos outros optavam pela vida de mercantes e pescadores, sendo estas castas livres, para aqueles que demonstrassem talento. Telä, a parada inicial na Ilha Maior, fora a primeira colônia da Antiga União fora da Gállen, e por isso, considerada uma nova tribo maior entre as seis principais.

Houve uma época de incentivo para expansão dos domínios élficos, durante o surgimento e crescimento da União. Á'Glah era um arquipélago não muito distante dentro do Oceano Endra, já bem conhecido pelos antepassados, e por ser desabitado de vida sapiente, serviria de porto de reparos e reabastecimento, possibilitando viagens ao resto de Ëathir. O habilidoso povo de Ayltêlam, a Tribo dos Artificies e berço de Níshma, pela familiaridade com os mares no coração de Yl'hinyrm, fizera um movimento migratório massivo nas ilhas selvagens. Na Ilha Maior, ao sul dela, as longas e calmas praias que ali encontraram serviriam perfeitamente para diversos atracadouros, e a colina que se seguia terra adentro convidava a mente criativa dos elfos a elevar moradas bem fortificadas. Fundaram assim Masha't Telä, a Sétima Obra em kandhú, para que fosse a sétima grande tribo élfica. Com o tempo, caíra o uso de Masha't, e a cidade simplesmente acabou conhecida como Telä, A Obra, ou A Arte.

— O porto é gigantesco e a cidade também. — Com mãos precisas, Ákera ajeitou as fivelas da armadura e a bainha à cintura. — Aitháa e as demais tribos do Norte são frias pela altitude. Aqui a terra é quente e úmida, e Wym'rú persistente.

— Algo me diz que não serei acompanhada por ti até a cidade. — A lunno se acostumara em carregar o cajado ao seu lado. Visualmente lhe agradava por agregar a imagem de sábia ao se introduzir para desconhecidos e trazia maior capacidade de conjurar. Gostava de se lembrar da imagem clássica do Eremita, que detinha um cajado como muleta ao mesmo tempo como símbolo da passagem do tempo, pois era feito em raízes petrificadas, assim como poderia se comparar a magos de outrora ou às ilustrações das exploradoras lunnos com seus cajados. — Ah, sim, as questões da nau. — A sua túnica ainda trazia na cintura a bainha com a espada de Ynamus.

Com um gesto a almirante assentiu.

— Nenhum cais desses suportaria a Lança Lunar nessas condições. Teriam de ser deslocados muitos barcos de onde já estão atracados.

— E então? — Virou o rosto para fora da nau, além da tripulação que circulava de um lado para outro, reconhecendo o problema de logística.

— Ynamus é nativo de Telä. Ele mora aqui quando não está em serviço e provavelmente conhece essas ruas melhor do que eu. — O comodoro possuía uma morada fixa na cidade, entretanto, a própria Lança Lunar era o verdadeiro lar dele. — Os estaleiros militares da cidade ficam em uma baía ao leste, não muito distante dessas praias. Minha armada receberá atenção especial sob rigorosa supervisão.

Quinta Lua (Livro Completo)Where stories live. Discover now