(75) - Telä

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"Telä, a joia de Á'Glah. A colônia awbhem se tornou autossustentável ao primeiro século de fundação e cresceu rapidamente com o comércio de especiarias locais e por servir de entreposto naval com os continentes mais afastados. De lá saíram os maiores navegadores que já se ouviu falar. A cidade serviu de ponto de reposição de suprimentos para as esquadras da União que viajavam para as extremidades do Oceano Endra ou para outros oceanos.

Quantos poemas, quantas cantigas, quantas músicas não foram inspiradas nos belos atracadouros de Telä? Suas torres brancas suntuosas, camadas de muralhas e templo da acrópole fascinaram e alimentaram a imaginação de todos que ali chegavam pela primeira vez.

Ninho das artes e casa dos artífices. A riqueza dos bosques, dos mares e das montanhas tornaram a cidade em uma localidade única. O Templo de Níshma está no lugar mais apropriado que existe."

- Pergaminho de viajante desconhecido


ANTES QUE partissem do acampamento, uma surpresa agradável aconteceu. Adúry se recuperara antes do esperado, o suficiente ao menos, e se voluntariou para juntar-se ao grupo de Yîarien. Talvez uma batalha direta seria ruim para ela, ainda estando fraca e se regenerando dos efeitos da toxina, e conforme ela mesma dissera, preferiria se recuperar ao lombo de uma montaria do que deitada em uma maca, pois assim crescera e vivera no deserto. E em uma soma de tradição e auxílio medicinal, Imyram a acompanhara.

Após isso, um grupo seleto de vinte kaskres entre eles Lyrra e Sebáah e mais vinte templárias, entre guardiãs e sacerdotisas, juntaram-se à missão da lunno conforme solicitara. Por mais que o objetivo fosse simples, ela se sentiria mais segura assim.

Fora um dia de jornada pela floresta, seguindo nenhuma trilha em específico, guiados pelas constelações a boa noção de localização de Máyen. Aproximaram-se novamente do mar, desta vez das praias ao sul da Ilha Maior. E, horas depois, adentraram nos domínios da cidade dos comerciantes. Daquele ângulo, somente colunas de fumaça e muros fraturados eram notados de anormal.

A aura do ambiente era sinistra, até mesmo pior que a de um campo de batalha convencional, e pouco antes de entrarem na primeira rua externa avistaram cadáveres de criaturas exóticas compartilhando o túmulo a céu aberto com awbhem, ysokem, sh'hilas e outras raças.

Desaceleraram a marcha ficando atentos a qualquer movimento. Expandir a percepção áurica era desagradável e insuportável, e Yîarien optou por confiar nos demais instintos, imaginando se os demais fizeram a mesma escolha. A sensação fúnebre era inigualável, e o cheiro de podridão dos corpos se decompondo era horrendo. Insetos e animais menores alimentavam-se da abundância de carne ofertada nas vias, mal se incomodando com a presença das amazonas.

— Parece que fora em outra vida que desembarcamos neste porto — comentou Wanäe, inconformada com o cenário que outra hora fora belíssimo. — Ou que entrei em um sonho tétrico onde serei julgada pelos meus erros.

— Sinto o mesmo — Máyen dissera.

— O que os awbhem farão contra esta desgraça? — Yuzhal tentara buscar trechos no Syllion para que pudesse dar um mínimo de conforto para seus companheiros, mas não encontrara. Supostamente Seur não compactuava com os elfos, então a solução deveria partir deles próprios. Assim pensara o seuriano, sentindo-se errado por isso.

— Saberemos na hora certa — a lunno lançou esperança, mesmo assim.

— Aquilo é o que estou imaginando? — Wanäe apontou com dois dedos da manopla para o que parecia uma escultura escura imensa sobre a rua, porém com feições de criatura marinha, esmagando com seu peso colossal as casas que repousava em cima.

Quinta Lua (Livro Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora