(33) - Armada das Luas

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            "Os Gigantes sucumbiram e com eles a Glória e a Unidade. Os salões perderam o brilho e o cântico. Os elos se romperam. Sonhos foram despedaçados (...) Ninguém esteve dentro de minha pele para partilhar de minhas frustrações, para presenciar minha impotência perante o desenrolar desta nova e abandonada Era. A cada ciclo enxergo como Elthuryan estava correto em afirmar que essa Era não pertencia mais a nós. Somos intrusos, vestígios vivos do esplendor perdido. Enquanto me abstenho de cada conflito cada vez mais, Elthuryan cresce, se infla, assumindo um lugar que não lhe é por direito. Escolhemos caminhos diferentes (...)

Minha presença está minguando. Devo desvanecer nas sombras..."

- Sétima Discípula, a última entre as seguidoras escolhidas pela Matriarca


Mês da Retidão


JÁ NAS proximidades de Lohal'loj, uma caravana que atravessava a estrada para o sul confirmou toda a história: uma armada misteriosa realmente assumira posição estacionária na saída do porto, sem barrar os navegantes e muito menos se justificar. Da forma que os mercadores relataram, a tal armada apenas aguardava por algum comando, ficando lá a pelo menos três dias sem notarem desembarque de soldados. Por sorte, uma nova informação de relevância duvidosa foi adquirida: desses, um único barco atracou no porto, sendo respectivamente o maior deles. E após mais uma breve reunião, o grupo continuou com o plano.

O dia estava só principiando-se com Wym'rú se firmando aos céus quando chegaram em Lohal. Uma cidade um pouco maior que o esperado por Yîarien e Wanäe, bem mais movimentada que o imaginado também. Tecidos, joias, animais, armas, cereais; de tudo era comercializado no maior centro de comércio marítimo da província. As montanhas do oeste eram uma extensão distante das cordilheiras, que chegavam até ali e reconfiguravam o terreno. Na parte das construções comuns o terreno era bem elevado em relação ao nível dos portos, que ficavam abaixo de paredões que acabavam bruscamente no mar. Igual na última parada, deixaram as montarias aguardando em um estábulo.

Quando uma das ruas abriu a visão para o horizonte do norte, Yîarien maravilhou-se com a imensidão azulada, da mesma forma que havia se fascinado com Mídd vista de cima das cordilheiras. Era a primeira vez que via o mar, mas diferente da vastidão aquosa do Lago das Brumas, ali havia ondas, assim como brisa salobra e sons de uma forma única. O cais espalhava-se pelos rochedos muito abaixo o que separava totalmente o porto do restante da área urbana.

Pararam sob arvoredos de um simples jardim público, onde uma mureta delineava uma margem da rua com o precipício que se erguia sobre a praia. Só então o horizonte permitiu enxergar ao menos quarenta naus de guerra com velas e remos recolhidos, parados em um tipo de formação desconhecida. Não pareciam hostis e era difícil ver se havia movimento no convés.

A guardiã debruçou na mureta, ganhando visão ampla dos ancoradouros.

— É awbhem, sem dúvida — ela confirmou. As templárias, especialmente as de Aylentar, detinham conhecimento militar tanto quanto as tropas regulares, o que incluía um conhecimento base sobre embarcações. — Essas barcas se assemelham com as frotas aylentarianas, mas aquele monstro não. — Todos olharam para o imenso barco parado dentro da baía, ocupando vários atracadouros ao mesmo tempo. Mesmo ao longe, os detalhes eram complexos. O sistema de mastros diferia de qualquer outro, o tamanho era consideravelmente maior, e outras diferenças escaparam de suas percepções devido o conhecimento raso deles sobre navios. Em um todo, a embarcação transmitia uma grandiosidade arcaica e intimidadora, uma arma de guerra que não deveria existir naqueles tempos.

Quinta Lua (Livro Completo)Where stories live. Discover now