Pergaminhos Perdidos: Forja dos Akâns

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A forja em Akâny fora o mais avançado complexo de trabalho com metais que Aylentar já tivera na Era de União. Nomeada em homenagem às Forças primárias narradas em contos arcaicos, a Forja dos Akâns proveu as armas que seriam posteriormente denominadas de artefatos lendários, tal a magnitude dos objetos cunhados nela. Para compreendê-la é necessário visualizar sua origem, que apesar de aparentar ser mítica é na verdade fruto da junção de conhecimentos antagônicos.

Pouco sabemos da origem real dos seurianos além do clássico "povo migratório que viera do Leste distante". Mas eles estiveram na Gállen muito antes de serem conhecidos assim. Três viajantes chegaram na Gállen montados sobre bestas voadoras domesticadas. Não da forma de inimigos, mas como renegados do próprio povo. Esses, ficaram conhecidos como os Três Alados.

Conta-se que os awbhem os receberam com grande hospitalidade, mesmo sem entenderem o que eles diziam. Nyranuai, a Segunda Discípula, com sua sabedoria, foi a primeira a entender o dialeto dos viajantes. Esses disseram serem exilados do grandioso império distante, que fora tomado por uma doença sem forma que cegava o povo para que não vissem a ruína eminente deles próprios. Um desses viajantes revelou os segredos da arte da manipulação da luz para a Discípula, que aprendera rapidamente devido seus dons.

Outro ensinou táticas militares que seriam aprimoradas por Endamyan, a Predadora Primeva, e posteriormente por Nährus. O último detinha um conhecimento vasto de construções, ao qual passou para Níshma, a Artesã. Pelo tempo que viveram na Gállen, os awbhem evoluíram tecnologicamente em décadas o que levariam séculos ou até milênios para atingir. Aylentar foi desenhada de acordo com as descrições das metrópoles dos seurianos renegados, e por isso a imensa capital possui suas muralhas vastas e torres tão altas e arrojadas.

Não bastasse os três seurianos como ensinadores, os poucos tomos de livros que traziam consigo continham mais informações valiosas, entre eles, haviam diagramas elaborados de metalúrgica avançada. Gállen não possuía os tipos de minérios que ali estavam representados, do tipo que compunha a vestimenta blindada dos viajantes. Mas foram aplicadas tais técnicas em minérios locais, e se descobriu que funcionavam igualmente, gerando resultados similares aos esboços dos tomos. Antes, os soldados mais bem protegidos trajavam cotas curtas e saiotes de placas. Então, conseguiriam revestir até o último trecho exposto da pele do guerreiro com armaduras completas, se assim desejassem ou fosse necessário. Os enakâns consideraram a metalurgia tão maravilhosa que a consideraram uma arte mítica. Todos os livros e conhecimentos foram reunidos na tribo Akâny, onde construíram sobre a colina um aglomerado de fornalhas e centros de fundição para manejar todo tipo de minério. E no centro da Gállen os enakâns criaram a Forja dos Akâns, em sua própria morada.

Os viajantes afinal eram ysokem, curiosamente detinham a pele vermelha igual suas montarias, mas ainda assim eram ysokem. Essa espécie é conhecida por ter uma longevidade curta, portanto, não viveram mais do que oitenta ciclos cada um. Mesmo após perecerem, seus ensinamentos continuaram vivos entre os awbhem, prosperando e progredindo. O mérito dos grandes feitos do início da União não deve ser tirado dos awbhem, pois eles adaptaram tudo aquilo que aprenderam prematuramente, criando com as próprias mãos, dando às suas obras a própria essência única. Não estavam fazendo cópias do que os exilados mostraram, e nem conseguiriam. Eles próprios diziam que suas cidades erguiam torres de centenas de metros e quando perguntavam a eles como realizavam tal façanha, contavam que o império de seu povo dispunha um exército infindo de bestas colossais tão dóceis quanto suas montarias, e que realizavam todo o trabalho árduo incansavelmente. Não sei dizer se isso é uma metáfora, mas receio que seja literal de alguma forma.

Curioso pensar, esses ysokem devem ter visto os awbhem como primitivos ignorantes, mas não os desprezaram. Os Três Alados deixaram um legado poderosíssimo, pois foram esses "primitivos" que os acolheram enquanto todas as outras criaturas do continente se mostravam hostis ou amedrontadas. Uma das revelações finais feitas pelo último deles antes da morte, foi que compartilharam com os awbhem tudo o que sabiam pois nos viam como criaturas opostas ao povo deles, os seurianos em si, e por isso nunca seriam consumidos pela doença que cegava a mente.

São extremos que se encontraram e conviveram pacificamente. As tribos haviam se unido, Aylentar construída, o calendário delineado, a linguagem e escrita definidas. Então, a Matriarca iniciou a contagem do tempo com o começo da União; a Primeira Era.

Conforme o reino expandia, mais refinados ficavam os métodos de uso de metais na Forja dos Akâns. Sempre que jazidas de recursos raros eram descobertos, o fruto da extração do mesmo era transportado pelas muitas estradas construídas até lá, onde novos equipamentos seriam gerados. A forja tornou-se tão eficiente, que com o poder das Forças, os enakâns conseguiam produzir materiais que não existem a disposição na natureza. Assim, as artes de forja e manipulação se uniram para cunhar metais "místicos". Algumas das armas emblemáticas forjadas em Akâny foi o malho de guerra de Nährus, Thsadak, com mais de três metros da base da haste até a cabeça, tão pesado, resistente e massivo, que apenas o Senhor da Conquista conseguia empunhar, fendendo rochas e muralhas com o impacto monstruoso do som de um trovão feroz. Outra arma fora a espada minuciosamente trabalhada como presente de Êllyra, a Quarta Discípula, nomeada de Sú'hen, que ampliava a sua Vontade áurica.

A forjadura do aço de brilho verde, Unaríl, se tornou extremamente famosa graças a esses magos que dominavam a metalurgia. Estas peças raras eram destinadas às figuras mais importantes do reino, como as deidades do Panteão.

Hoje, enquanto ainda transcrevo esta passagem, Akâny continua como uma grande ruína no coração da Gállen, com indescritíveis segredos enterrados nas máquinas arruinadas, separando a maior passagem por terra entre Isänyrm e Thulyrm.

- por Ýngva, guardiã do templo de Ktajh

Quinta Lua (Livro Completo)Kde žijí příběhy. Začni objevovat