(25) - Em Profundo Desejo Nos Afogamos

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"Em épocas de maior decência, os Arautos nutriam a esterilidade terrestre com técnicas de irrigação, reorganizando a manancial dos leitos. Quando a terra se demonstrava apta, semeavam as sementes da vida, guiando as raízes para que prosperassem, originando recantos exuberantes ao meio do deserto. Eis o dom dos pastores da terra."

- Cibe Adúry, A Andarilha das Dunas, Mestra da Ordem Kaskre




EM UM raro oásis ainda existente, desconhecido pelos mapas, escondido onde nenhum viajante ousava explorar, o grupo foi levado. A flora majestosa, onde apenas pássaros chamavam de lar, escondia-se no fundo da garganta de penhascos altos, que propositalmente jorravam correntezas cristalinas para dentro. Uma imensa cobertura se erguia muito acima, sombreando parte das árvores a maior parte do dia, impossibilitando quase toda a visão interna de cima das montanhas. A proteção superior não era de essência natural. A gigantesca estrutura mais rija que rocha se estendia sobre tudo, de tom ancião, escurecido pelo tempo incontável, fazendo parte de um mísero começo de outra construção inconcebivelmente maior que continuava para dentro da terra.

Ali principiava-se uma das infinitas entradas aos túneis das ruínas, sendo a grande maioria delas desconhecida, espalhadas por toda Ýku'ráv sem padrão conhecido. Estas edificações ancestrais, relativamente fáceis de serem encontradas em Mídd, eram escassas na Gállen. A aridez do coração do continente preservava, enquanto a vegetação e o clima úmido da terra dos awbhem consumia os vestígios até se tornaram colinas sobre escombros.

Tanto aquele acesso dos túneis quanto o oásis localizavam-se no fundo do abismo rochoso que os rodeava, grandiosos, dando uma sensação esmagadora e bela.

— Desejo fortemente que os adoradores de Bálshiba e os seurianos acabem se encontrando no caminho e se matem entre eles. — Thâmyr foi sincero como costumava ser. – Faria meu dia muito melhor.

— Eu desejaria que os dois não estivessem me perseguindo — Yîarien lhe respondeu, menos divertida, devolvendo o mesmo tom de sinceridade. — A morte deles não me traria tanta paz quanto parece.

— Também seria bom — concordou o Errante.

Saíam das passagens estreitas dos desfiladeiros para entrarem no cenário vívido. O bosque exótico que se mantinha da rica quantia de riachos e pouca intensidade dos raios de Wym'rú só não chamava mais atenção que os vestígios de algo desproporcionalmente grande que um dia aquilo foi.

— Reparem como existem tantas quedas d'água e nenhum rio aqui embaixo. — Adúry contemplava o cenário tal fosse a primeira vez, tamanha era sua admiração pelo recanto encantador, que já conhecia bem de outras vindas. — Toda a água se acomoda em lagos que encontram o próprio caminho por vias subterrâneas. Os Arautos diziam que essas vias eram as veias da terra que garantiam a futura abundância no deserto. Considerem este oásis secreto se desejarem. — Indicou a uma coluna quebrada, parcialmente soterrada — Ruínas como esta não são tão incomuns no deserto quanto o que restou dos jardins imaculados de Zyshuth. As duas talvez não existam juntas em outro lugar. Não há acessos até aqui para quem está em cima dos penhascos, nossa passagem pelos escavadores e os túneis são os únicos meios. Estamos bem isolados.

— Essas ruínas, o que são? — Wanäe reparou que as construções apresentavam inscrições imensas, de acepções inconcebíveis. Alguns trechos pareciam símbolos alongados com ondulações, outros de precisão geométrica incrível, sem lógica aparente ou trechos que representassem uma escrita viável. A coloração bege fazia se destacar sutilmente nas rochas cor de areia. Então arriscou um palpite sombrio. — Asi'Kale?

Quinta Lua (Livro Completo)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt